sábado, maio 25, 2013

cinemaison


Sessão dupla imperdível no Cinemaison, próxima segunda:

Às 18h, "Loulou" (1981), de Maurice Pialat

e

Às 20h "O Atalante", (1934), de Jean Vigo

quarta-feira, maio 22, 2013

debate sp 3


Ainda no debate em São Paulo, o Luiz Carlos Oliveira Jr descreveu duas das características mais marcantes do cinema do Samuel Fuller: o gosto pelo plano-sequência e o que ele denominou de “montagem de choque” - esta última expressão, na verdade, vem dos franceses, da “Cahiers du Cinéma”, dos anos 50. Na véspera do debate, eu havia revisto “Dragões da Violência” (1957), e essa noção de “montagem de choque” não me sai da cabeça desde então. A questão, pra mim, está no “choque”. Não sei mesmo se este é o termo mais adequado.

Fuller alimenta certamente uma interpretação mais instintiva e original dos conceitos de continuidade e raccord. Os cortes parecem talvez mais associados a uma ideia escorregadia de intensidade dramática. O que faz com que sejamos constantemente surpreendidos. Fuller gosta de sequencias de closes, mudanças repentinas de escala, descontinuidades espaciais, etc. Sem cerimônia, ele vai de um plano médio de um duelo entre dois homens, para o close detalhe do olho de um deles.

Eu compreendo que “choque” tenha sido nos anos 50 um termo apropriado para dar conta da experiência de ver filmes como “Dragões da Violência”. O cinema hollywoodiano mais, digamos, hegemônico, via muitos dos procedimentos de Fuller como “erros”, “idiossincrasias”, como evidências de uma certa primitividade – até mesmo a “Cahiers du Cinéma” recorreu a estão noção de primitivo. É natural, portanto, que a montagem de Fuller fosse vista em relação de antagonismo com a maior parte da produção cinematográfica que lhe era contemporânea, que o espectador se sentisse genuinamente chocado.

Hoje, no entanto, superada muitas destas questões, não vejo em Fuller uma vontade se afirmar em oposição ao que quer que seja. Tampouco sinto-me chocado. Choque implica em conflito, confronto. É de outra ordem a sensação que vem por exemplo do duelo logo no início de “Dragões da Violência”. Existe uma urgência, uma surpresa, talvez uma agressividade sensível... Não sei. Mas esta é a aventura da crítica, o que faz dela algo criativo, e instigante: descrever, dar nome, criar conceitos para aquilo que o cinema já descobriu. 

domingo, maio 19, 2013

pineapple express 2

Um video de Evan Goldberg e Seth Rogen lançado no dia 1° de abril, dia da mentira: “Pineapple Express 2”.


Na verdade, era uma promo do novo filmed a dupla: “This is the End”.

sábado, maio 18, 2013

debate são paulo 2


Ainda em São Paulo, pouco antes do debate começar, um senhor fez graça comigo e o mestre Inácio Araújo sobre uma cena de “Paixões que Alucinam” (1964): enfermeiros seguram Johnny Barret, que, amarrado à cama, está prestes a passar por uma sessão de choques elétricos. “Ora, se fosse de verdade, os enfermeiros também receberiam as cargas elétricas. Será que o Fuller não sabia disso?”. Eu acho curioso como uma pergunta simples e inofensiva como esta é capaz, se levada a sério, de revelar particularidades interessantes do cinema de Fuller, talvez do cinema em geral. Quer dizer, o senhor do debate tem razão: os enfermeiros também levariam os choques – lembro também que meu pai, professor e psicanalista, não conseguiu gostar de “Paixões que Alucinam”; “A loucura dos personagens, as sessões de análise, é tudo muito caricato”, disse ele. A impressão é a de que, para Fuller, estamos no plano dos detalhes. Na verdade, não sei se é bem isso. Fuller é bem detalhista quando o assunto é a trama, o personagem. Talvez seja melhor colocar desta forma: sua preocupação maior não é exatamente uma certa fidelidade à realidade, mas a precisão dramática. Ou seja: os enfermeiros segurarem o paciente, torna a cena ainda mais verossímil e intensa. Em cinema, verossimilhança é questão dramática. O próprio Fuller dizia ter alguns problemas coma encenação da guerra. Um tiroteio, dizia ele, não durava mais do que dois minutos. As pessoas morrem rápido. Em um filme, não há como narrar um confronto em menos de dois minutos. Fuller tinha consciência disso. 

segunda-feira, maio 13, 2013

debate em são paulo


Em São Paulo, no debate da mostra do Samuel Fuller, o Inácio Araújo disse que é preciso aprender a gostar de alguns cineastas. Este teria sido o seu o caso com Fuller. Inácio já conhecia seus filmes, sem muito entusiasmo. Carlão Reichenbach o convenceu a vê-los novamente. Aprender a gostar. É uma ideia que me parece interessante. Não é a minha história com o Fuller, que sempre me manteve de olhos abertos. Robert Bresson, este sim, aprendi a gostar dele. Odiei os primeiros filmes que vi: "Diário de um Padre" (1951) e "Lancelot du Lac" (1974). Hoje, contudo, os acho divertidos. "Mouchette" (1967) e "O dinheiro" (1983) são dois dos meus filmes prediletos. Foi-me preciso “entender” aquele cinema para gostar dele. Contextualizá-lo. Saber de onde ele vinha. As atuações. A fotografia. O tom. A mão pesada de Bresson. A noção de encontro. As coisas foram se encaixando. Isto levou um certo tempo. Manoel de Oliveira também me era chato, entediante, aborrecido – talvez, sobretudo, pelo português de Portugal, que me dói os ouvidos, num preconceito bizarro e difícil por vezes de ultrapassar.

terça-feira, maio 07, 2013

a visitante francesa ***


Foi bem divertido ver este filme de Hong Sang-Soo. Um cinema que se assume como construção, embora exale um certo desprendimento, uma aleatoriedade, um aqui e agora. Na verdade, a história da jovem que, por tédio e em fuga, escreve três pequenos enredos envolvendo uma francesa em uma pacata cidade do litoral coreano, explicita um pouco da natureza dos personagens deste cinema. Eles existem como narrações de si mesmos. São seres incompletos, sempre em construção, sem versões definitivas, enredados em rocamboles afetivos, em encontros e desencontros de sentimentos e emoções imprecisos, sempre regados a álcool. São o que dizem, embora o que fazem muitas vezes os contradigam. Uma gente confusa, como a gente.  
“A visitante francesa” põe em movimento o jogo absolutamente desconcertante característico dos últimos filmes de Sang-Soo. Nele, é tudo tão pensado, baseado em ensaios e roteiro... Os personagens, contudo, se desprendem de tudo isso, em uma soma aparentemente aleatória de conversas, alinhavadas sem uma relevância mais explícita, muito menos uma curva dramática de amadurecimento. Os personagens são sempre um aqui e agora. Eis que, no entanto, por vezes para sublinhar um diálogo, a reação de um personagem, ou apenas para reenquadrar a ação ou, quem sabe, chamar nossa atenção, Sang-Soo lança mão do zoom. E, de repente, uma enunciação de mão pesada e um estilo aberto ao universo do encontro, vamos lá, como uma janela aberta sobre o mundo, convivem, se alimentam, dependem um do outro. O cinema sempre à nossa frente.

Eu fui dar uma olhada no que havia saído a respeito do filme aqui e, sobretudo, no estrangeiro, e, confesso, fiquei um pouco decepcionado. A crítica é muitas vezes exercida como uma espécie de polícia, de patrulha. Ora exigindo novidades. Ora movido por uma necessidade de encontrar fragilidades, mesmo que pontuais. É, portanto, importante sublinhar que o cinema de Sang-Soo, embora brote da exploração sistemática de um mesmo universo, método de filmagem e estilo, instala sempre sutis variações a cada filme; e que talvez seja mais interessante (dependendo, é claro do filme, do olhar que ele nos demanda) pensar por meio de uma noção de integralidade. Qualquer filme tem lá suas fragilidades. Alguns dependem delas, fazem delas parte integrante de sua existência.