domingo, dezembro 29, 2013

azul é a cor mais quente **

Alguns filmes crescem na memória. Outros ficam menores. O novo filme-sensação do franco-argelino Abdellatif Kechiche me parece (cada vez mais) estar no segundo time. É só lembrar de “Azul é a cor mais quente” que eu fico mais e mais incomodado. O filme é eficiente, porém limitado. Nada demais, embora com alguns pontos positivos. Isso já tinha ficado claro. Em um primeiro visionamento, contudo, apeguei-me ao sentido de urgência já característico do cinema Kechiche, e me perguntava durante a sessão se aquilo não era melhor compreendido como uma experiência subjetiva da personagem.

Agora, contudo, o que mais me salta à memória é um desejo de grandeza, uma vontade onipotente de cobrir tudo, absolutamente tudo. “Azul é a cor mais quente” é enorme. Suas cenas quase sempre duram mais do que de fato necessitavam. É curioso como, em um primeiro momento, o filme retira muito de sua força justamente dessa duração. Em um segundo momento, entretanto, o que se sobressai pra mim são alguns esquematismos e simplificações bem complicadas. Vejo um certo determinismo em algumas relações, sobretudo no que diz respeito a Adele e suas amigas de escola. O bar de lésbicas é um crime de tão estereotipado, assim como o mundo artístico da cidade. A própria personagem da Emma, suas motivações e dilemas artísticos e profissionais, parece saída de uma espécie de manual.

Esse desequilíbrio sempre esteve presente no cinema de Kechiche, e isso me faz pensar, com uma convicção cada vez mais forte, que para o franco-argelino, o estilo precede mesmo ao filme: a câmera (multicâmeras, na verdade) na mão hiperativa, quase sempre bem perto dos corpos, muitas vezes em closes, com cortes sucessivos dentro das cenas e muitas elipses. O final aberto me irrita bastante também. É algo recorrente no cinema de Kechiche, embora também esteja presente no cinema de muitos outros. Ela aspira a algo aberto, aberto ao nosso testemunho, como algo que se desenrolou e se desenrolará... A cena ainda dura, mais uma vez, mais do que ela precisava... O que vejo é uma manipulação dramática muito forte e consciente. Quer dizer: Kechiche dá vida aos seus personagens, mas também os asfixia. Às vezes a impressão é a de que os personagens nascem já asfixiados, algo como natimortos. Enfim...

terça-feira, dezembro 17, 2013

doce amianto ****

Que filme bonito. Dói-me vê-lo sair assim do circuito carioca, em apenas duas semanas, como se sequer tivesse entrado em cartaz. Dói-me porque, para além de ser comoventemente belo, é um filme que quer ser visto. Acho mesmo que caso a divulgação fosse mais presente e os exibidores um pouco mais corajosos, “Doce Amianto” encontraria seu público, fiel e apaixonado. Eu mesmo fui vê-lo sozinho pela primeira vez. Depois voltei com minha esposa e minha mãe. Elas indicaram para outras pessoas. O meu primo ouviu, gostou e indicou para os seus. Estes vão ter que esperar pelo DVD...

Amianto é um personagem diferente, afetada como o filme. Amianto é uma certa sensibilidade. Amianto é ela mesma uma espécie de artifício. É vulnerável, porém invencível. É excessiva, mas não precisa de muito. Amianto é um duplo fabular que se propaga, que se dissemina por uma vontade de narratividade, de afirmação e desejo. Amianto busca um lugar para chamar de seu. Este lugar, é preciso construí-lo, a cada fantasia, a cada afeto, a cada encontro, através do cinema. Um lugar que nem por isso deixa de ser real.

É na verdade bem curioso o fato de meu último post ter sido sobre Manoel de Oliveira e seu caso de amor pelo artifício cinematográfico. A riqueza contagiante de “Doce Amianto” é de natureza parecida. O filme exala aquela consciência de seu próprio lugar na história das formas cinematográficas, aquela noção de ter vindo depois. Algo que me lembra o diagnóstico de Alain Bergala, que, nos anos 80, usou o termo “maneirismo” para se referir ao cinema de Lars Von Trier, Win Wenders e Jim Jarmush, entre outros. “Doce Amianto” compartilha essa constatação da idade avançada do cinema e se constitui em uma espécie de inventário de formas cinematográficas. São muitas referências. São muitos artifícios. São muitas “maneiras”. O que é extremamente interessante é que tudo isso é captado na mesma textura, identificáveis, embora indiferenciáveis. Quer dizer: a constatação da idade do cinema e o inventário de formas se fazem sem peso ou dificuldade. É um amor pansexual este que “Doce Amianto” alimenta com o cinema e suas convenções. Através delas, da exploração daquilo que elas podem, busca-se novos vínculos com o mundo.

terça-feira, dezembro 10, 2013

o estranho caso de angélica ****

Vi este filme novamente. Viria mais algumas vezes. “O estranho caso de Angélica” é um grande filme. Manoel de Oliveira faz um cinema que me agrada cada vez mais. Eu tinha uma certa implicância com os seus longas, sobretudo, com o português de Portugal. Uma idiossincrasia minha, difícil de ser superada. O tempo, os anos que ganhei ao longo do tempo, contudo, abriram-me os olhos e os ouvidos. E hoje, me vejo divertindo-me aos montes nos filmes de Oliveira.  

Não foi diferente neste “O estranho caso de Angélica”. É curioso como Oliveira consegue imprimir uma certa indeterminação temporal em seus filmes. As referências temporais confundem um pouco as coordenadas, embora sem jamais chamar atenção pra si ou atrapalhar a compreensão da coias. Quer dizer: ao contrário, a indeterminação faz incrivelmente bem ao jogo cinematográfico um tanto romântico que Oliveira nos propõe neste longa. Ela talvez aumente o alcance do filme. Não sei bem. “O estranho caso de Angélica” é certamente um filme livre e desimpedido.  

É incrível como o varal de fotos do quarto de Isaac (Ricardo Trêpa, um animal oliveiriano) contém o conflito que move o filme. As fotos de Angélica morta, porém, bela e como que sorrindo, são intercaladas com as imagens de um grupo de homens e suas enxadas, arando um campo. A beleza assustadora de Angélica. A brutalidade bela dos trabalhadores. A noite e o dia. O interior e o exterior. A mágica e o documento. O sonho e a realidade. Morte e vida. A sucessão das imagens nos varal faz das fotografias cinema. Oliveira sempre fala de cinema. Espírito, Matéria, Imagem. E cinema, como nenhuma outra arte, é capaz de capturar tudo na mesma textura, em uma dialética ativa entre o atual e o virtual, o interno e o externo, o concreto e abstrato, o sonho e a realidade.

A imagem de Angélica, morta, vem à vida, toma seu “criador” de assalto, torna-se mais real do que o mundo do qual ela foi extraída. Isaac se apega aos trabalhadores, vive em uma espécie de inter-mundo, entre eles e Angélica. Eis que, de repente, em um sonho, Angélica aparece, o abraça, e, juntos, eles voam pela cidade. O voo de Angélica e Isaac é movido a inesperados efeitos especiais, em preto-e-branco. Fala-se em homenagem a George Meliés. Fala-se em um elogio a um tempo, digamos, mais artesanal. Talvez seja tudo isso mesmo. E um pouco mais. Isaac acorda, dá-se conta que estava sonhando, e se pergunta: “seria isto o absoluto pelo qual eu ansiava”?

Caramba! Isaac tem razão. Ele passará o resto do filme esperando por momento absoluto. Eu, enquanto esperava com ele, me perguntava o que isso dizia sobre o cinema de Oliveira. Afinal, ao busca uma imagem do absoluto, o cineasta centenário esculpiu (e o termo não é empregado à toa) uma sequência artificiosa, brincalhona, um tanto irreal, porém também absolutamente realista. Ou não? Não é uma maravilha? O artifício oliveiriano é algo que supera dicotomias que marca o cinema e o pensamento sobre ele. “O estranho caso de Angélica” pode ser sintetizado como uma certa postura do cinema diante do mundo. Oliveira é um cara fascinado pelo poder do cinema, ou melhor, pelas convenções mais disseminadas do cinema.

quarta-feira, dezembro 04, 2013

miklos jancso

Começou na Caixa Cultural uma mostra com alguns filmes do húngaro Milos Jancso! Vejam a programação abaixo. Se tiver que escolher um, vá ver "Os sem esperança" (1966). Dá-lhe plano sequencia.

QUARTA-FEIRA, 4 DE DEZEMBRO
14h30 - Rapsódia Húngara (Magyar rapszódia) – 1978, DVD, 103min | Classificação: 16 anos
17h - Allegro Bárbaro (Magyar rapszódia II) – 1979, DVD, 73min | Classificação: 16 anos
19h - Coração Tirano, aliás, Boccaccio na Hungria (A zsarnok szíve, avagy Boccaccio Magyarországon) – 1981, 35mm, 96min | Classificação: 14 anos

QUINTA-FEIRA, 5 DE DEZEMBRO
15h40 - Inverno de Sirocco (Sirokkó) – 1969, DVD, 80min | Classificação: 14 anos
17h40 - Silêncio e Grito (Csend és kiáltás) – 1967, 35mm, 73min | Classificação: 12 anos
19h10 - DEBATE: A ESTÉTICA DE JANCSÓ – com Hernani Heffner, pesquisador e chefe de preservação no MAM-Rio e Ruy Gardnier, fundador da revista de crítica cinematográfica Contracampo e crítico no jornal O Globo.

SEXTA-FEIRA, 6 DE DEZEMBRO
17h - Temporada dos monstros (Szörnyek évadja) – 1987, DVD, 100min | Classificação: 14 anos
19h - Ventos Cintilantes (Fényes Szelek) – 1968, 35mm, 80min | Classificação: 10 anos

SÁBADO, 7 DE DEZEMBRO
15h - Em Budapeste, o Senhor deu uma lanterna em minhas mãos (Nekem lámpást adott kezembe az Úr Pesten) – 1998, 35mm, 103min | Classificação: 12 anos
17h - Coração Tirano, aliás, Boccaccio na Hungria (A zsarnok szíve, avagy Boccaccio Magyarországon) – 1981, 35mm, 96min | Classificação: 14 anos
19h - Os sem-esperança (Szegénylegények) – 1966, 35mm, 90min | Classificação: 12 anos

DOMINGO, 8 DE DEZEMBRO
14h - Temporada dos monstros (Szörnyek évadja) – 1987, DVD, 100min | Classificação: 14 anos
16h - O horóscopo de Jesus Cristo (Jézus Krisztus horoszkópja) - 1988, 35mm, 90min | Classificação: 14 anos
18h - Silêncio e Grito (Csend és kiáltás) – 1967, 35mm, 73min | Classificação: 12 anos

//SEMANA 2

TERÇA-FEIRA, 10 DE DEZEMBRO
15h - Rapsódia Húngara (Magyar rapszódia) – 1978, DVD, 103min | Classificação: 16 anos
17h - Ventos Cintilantes (Fényes Szelek) – 1968, 35mm, 80min | Classificação: 10 anos
19h - DEBATE: HUNGRIA, HISTÓRIA E CINEMA – a confirmar

QUARTA-FEIRA, 11 DE DEZEMBRO
14h - Inverno de Sirocco (Sirokkó) – 1969, DVD, 80min | Classificação: 14 anos
16h - Meu caminho pra casa  (Így jöttem) – 1964, DVD, 109min | Classificação: 12 anos
19h - Vermelhos e Brancos (Csillagosok, katonák) – 1967, 35mm, 90min | Classificação: 12 anos

QUINTA-FEIRA, 12 DE DEZEMBRO
15h - Electra, meu amor (Szerelmem, Elektra) – 1974, 35mm, 70min | Classificação: 14 anos
17h - Salmo Vermelho: O Povo ainda quer mais! (Még kér a nép) – 1971, 35mm, 87min | Classificação: 14 anos
19h - Cantata: dissolução e ligação (Oldás és kötés) – 1963, 35mm, 94min | Classificação: 12 anos

SEXTA-FEIRA, 13 DE DEZEMBRO
17h - Allegro Bárbaro (Magyar rapszódia II) – 1979, DVD, 73min | Classificação: 16 anos
19h - Em Budapeste, o Senhor deu uma lanterna em minhas mãos (Nekem lámpást adott kezembe az Úr Pesten) – 1998, 35mm, 103min | Classificação: 12 anos

SÁBADO, 14 DE DEZEMBRO
15h - O horóscopo de Jesus Cristo (Jézus Krisztus horoszkópja) - 1988, 35mm, 90min | Classificação: 14 anos
17h - Electra, meu amor (Szerelmem, Elektra) – 1974, 35mm, 70min | Classificação: 14 anos
19h - Salmo Vermelho: O Povo ainda quer mais! (Még kér a nép) – 1971, 35mm, 87min | Classificação: 14 anos

DOMINGO, 15 DE DEZEMBRO
15h - Cantata: dissolução e ligação (Oldás és kötés) – 1963, 35mm, 94min | Classificação: 12 anos
17h - Vermelhos e Brancos (Csillagosok, katonák) – 1967, 35mm, 90min | Classificação: 12 anos

quarta-feira, novembro 27, 2013

filmes-carta e naruse

Outras duas mostras bem bacanas. "Filmes-carta: por uma estética do encontro" segue na Caixa Cultural até o dia 1° de dezembro. Vejam a programação no site da mostra.

E, no CCBB, uma retrospectiva com alguns filmes do mestre japonês Mikio Naruse. A programação abaixo. Leiam também o texto de Chris Fujiwara.

>> Dia 27, QUARTA
17h30min – Vida de casado (97’)
19h30min – Chuva repentina (92’)

>> Dia 28, QUINTA
17h30min – Toda a família trabalha (65’)
19h30min – Nuvens de verão (135’)

>> Dia 29, SEXTA
15h30min – Tormento (98’)
17h30min – Atores itinerantes (71’)
19h – Nuvens flutuantes (124’)

>> Dia 30, SÁBADO
18h – A chegada do outono (80’)
19h30min – Quando a mulher sobe a escada (111’)

>> Dia 1º, DOMINGO
17h – Mamãe (98’)
19h – Nuvens dispersas (108’)

>> Dia 02, SEGUNDA
17h30min – Tsuruhachi e Tsurujiro (89’)
19h30min – Correnteza (117’)

>> Dia 4, QUARTA
17h30min – Tormento (98’)
19h30min – Mamãe (98’)

>> Dia 5, QUINTA
17h30min – A chegada do outono (80’)
19h30min – Tsuruhachi e Tsurujiro (89’)

>> Dia 6, SEXTA
15h – Nuvens flutuantes (124’)
17h15min – Nuvens de verão (135’)
20h – Nuvens dispersas (108)

>> Dia 7, SÁBADO
17h30min – Chuva repentina (92’)
19h30min – Vida de casado (97’)

>> Dia 8, DOMINGO
16h30min – Correnteza (117’)
19h – Quando a mulher sobe a escada (111’)

>> Dia 9, SEGUNDA
17h30min – Atores itinerantes (71’)

19h30min – Toda a familia trabalha (65’)

segunda-feira, novembro 25, 2013

recine

Enquanto a Semana dos Realizadores roubas as atenções no Espaço Itaú de Cinema, o Recine tem pelo menos três sessões imperdíveis.

No Arquivo Nacional, a versão restaurada de "Copacabana mon amour" (1970), de Rogério Sganzerla, na terça, 26 de novembro, às 20h.

E "Ladrões de cinema" (1977), de Fernando Coni Campos, na quarta, 27 de novembro, às 20h.

Além disso, no MAM, "Ganga Bruta" (1933), na quinta, 28 de novembro, às 20h.

quinta-feira, novembro 21, 2013

links

Voltando as poucos. Alguns links:

- Alguns ótimos textos na nova edição da "Cinética". Recomendo muitíssimo os de Paulo Santos Lima, Francis Vogner dos Reis e Fábio Andrade.

- Ainda na "Cinética", tem Jean-Claude Brisseau por Luiz Soares Júnior, e uma entrevista incrível de Juliano Gomes com Claire Denis

- Saymon Nascimento em dois posts inspirados. Um sobre "Breaking Bad" e outro sobre "Bling Ring".

- Nova e incrível edição do La Furia Umana

- Uma entrevista com Philippe Garrel na "Lumière".

- Brad Stevens sobre Jess Franco

- Uma conversa entre João Pedro Rodrigues e Alain Guiraudie no CinemaScope

- Vocês já viram a nova edição da "Lola", né?

- Screening the Past em nova edição sob a batuta de Adrian Martin

- Adrian Martin sobre Leos Carax e Marlon Brando

- Nesta página, é possível ver links para alguns dos trabalhos de Tom Gunning.

- Uma entrevista com Chantal Akerman:



- USA GO HOME no Youtube com legendas em inglês:



- E pra quem ainda não viu:



sexta-feira, novembro 08, 2013

saraceni na caixa

Outra mostra imperdível, Paulo Cezar Saraceni, na Caixa. Vejam a programação abaixo:

8 de novembro de 2013 (sexta-feira)

15h – “Capitu”, de Paulo Cezar Saraceni (1968, 105’, 35 mm, 10 anos, ficção)

17h – “A casa Assassinada”, de Paulo Cezar Saraceni (1971, 103’, 35mm, 16 anos, ficção)

19h – “O Viajante”, de Paulo Cezar Saraceni (1998, 117’, 35mm, 18 anos, ficção)

9 de novembro de 2013 (sábado)

15h – Sessão de Curtas: 1. “Casimiro de Abreu”, de Paulo Cezar Saraceni (1972-1976, 10’, DVD, Livre, documentário) + 2. “Laço de Fita”, de Paulo Cezar Saraceni (1976, 30’, 35mm, Livre, documentário) + 3. “Cinema: como é e como se faz”, de Paulo Cezar Saraceni (1974, 15’, 35mm, Livre, documentário) + 4. “Quadro a Quadro Newton Cavalcanti”, de Paulo Cezar Saraceni (1984, 10’, 35mm, Livre, documentário)

17h – “O Gerente”, de Paulo Cezar Saraceni (2011, 81’, DVD, 10 anos, ficção,)

19h – Debate com o elenco do filme “O Gerente”

10 de novembro de 2013 (domingo)

15h – “Banda de Ipanema”, de Paulo Cezar Saraceni (2002, 86’, 35mm, 12 anos, documentário)

17h – “Natal da Portela”, de Paulo Cezar Saraceni (1988, 85’, 35mm, 14 anos, ficção)

19h – “Amor, Carnaval e Sonhos”, de Paulo Cezar Saraceni (1972, 80’, DVD, 14 anos, ficção)

12 de novembro de 2013 (terça-feira)

14h – “Bahia de Todos os Sambas”, de Paulo Cezar Saraceni (1996, 102’, 35mm, Livre, documentário)

16h – “Memórias de Garrincha”, de Paulo Cezar Saraceni (2001, 100’, DVD, Livre, documentário)

18h – “Anchieta, José do Brasil”, de Paulo Cezar Saraceni (1977, 150’, DVD, 16 anos, ficção)

13 de novembro de 2013 (quarta-feira)

15h – “O Desafio”, de Paulo Cezar Saraceni (1964, 100’, 35mm, 18 anos, ficção)

17h – “Ao Sul do Meu Corpo”, de Paulo Cezar Saraceni (1981, 102’, 16mm, 18 anos, ficção)

19h – “Integração Racial”, de Paulo Cezar Saraceni (1964, 40’, 16mm, Livre, documentário)

14 de Novembro de 2013 (quinta-feira)

15h – “O Gerente”, de Paulo Cezar Saraceni (2011, 81’, DVD, 10 anos, ficção)

17h – “Capitu”, de Paulo Cezar Saraceni (1968, 105’, 35 mm, 10 anos, ficção)

19h – Palestra sobre “O Cinema Novo”. Palestrante: Hernani Heffner. Mediador: João Paulo Saraceni

15 de novembro de 2013 (sexta-feira)

15h– “Porto das Caixas”, de Paulo Cezar Saraceni (1962, 75’, 35mm, 14 anos, ficção).

17h – “A casa Assassinada”, de Paulo Cezar Saraceni (1971, 103’, 35mm, 16 anos, ficção)

19h – “O Viajante”, de Paulo Cezar Saraceni (1998, 117’, 35mm, 18 Anos, ficção)

16 de novembro de 2013 (sábado)

15h – “Natal da Portela”, de Paulo Cezar Saraceni (1988, 85’, 35mm, 14 anos, ficção)

17h – “O Gerente”, de Paulo Cezar Saraceni (2011, 81’, DVD, 10 anos, ficção)

19h – “Bahia de Todos os Sambas”, de Paulo Cezar Saraceni (1996, 102’, 35mm, Livre, documentário)

17 de novembro de 2013 (domingo)

14h – Sessão de Curtas: 1. “Casimiro de Abreu”, de Paulo Cezar Saraceni (1972-1976, 10’, DVD, Livre, documentário) + 2. “Laço de Fita”, de Paulo Cezar Saraceni (1976, 30’, 35mm, Livre, documentário) + 3. “Cinema: como é e como se faz”, de Paulo Cezar Saraceni (1974, 15’, 35mm, Livre, documentário) + 4. “Quadro a Quadro Newton Cavalcanti”, de Paulo Cezar Saraceni (1984, 10’, 35mm, Livre, documentário)

16h – “Anchieta, José do Brasil”, de Paulo Cezar Saraceni (1977, 150’, DVD, 16 anos, ficção)

19h – “O Gerente”, de Paulo Cezar Saraceni (2011, 81’, DVD, 10 anos, ficção)

terça-feira, novembro 05, 2013

rithy panh

Última semana do Rithy Panh no CCBB:

06/11 – quarta           
15h30 – Bophana, uma tragédia cambojana (1996) – 59’
17h – Duch, o mestre das forjas do inferno (2011) – 110’
19h15 – Debate: Anita Leandro e Carla Maia e Luís Felipe Flores

07/11 – quinta             
15h30 – Tio Rithy (2009) – 94’
17h30 – A terra das almas errantes (2000) – 106’
20h – Papel não embrulha brasas (2007) – 90’

08/11 – sexta
15h30 – Cinco vidas (2010) – 93’
17h30 – Uma barragem contra o Pacífico (2008) – 115’
20h – Os artistas do teatro queimado (2005) – 82’

09/11 – sábado
16h – Por onde eu vou (2012) – 55’
17h30 – O khmer vermelho e o pacifista (2011) – 88’
19h30 – Uma noite após a guerra (1998) – 108’

10/11 – domingo
16h – A terra das almas errantes (2000) – 106’
18h – Casamento vermelho (2013) – 58’
19h15 – A imagem que falta (2013) – 95’

11/11 – segunda
16h – O último refúgio (2013) – 55’
17h30 – O sono de ouro (2011) – 96’
19h30 – Condenados à esperança (1994) – 125’

sexta-feira, outubro 25, 2013

garrel no mam

Sessão dupla de Philippe Garrel no MAM no sábado:

16h – Não ouço mais a guitarra (Je entends plus la guitarre, 1991) 

18h – O nascimento do amor (Le naissance de l’amour, 1993) 

quinta-feira, outubro 17, 2013

segunda-feira, setembro 30, 2013

cinemaison

Em pleno festival, uma sessão dupla imperdível no Cinemaison desta segunda:

Às 18h, Os Excluídos do Bom Deus, de Jean-Claude Brisseau
Às 20h, Coisas Secretas, de Jean-Claude Brisseau

segunda-feira, setembro 23, 2013

festival do rio

O Festival do Rio se aproxima. Embora sinta falta de algumas coisas (os últimos de
João Pedro Rodrigues, Miguel Gomes, Jia Zhangke, Tsai Ming-Liang, etc.), a seleção é uma das melhores dos últimos anos. Fiz uma lista enorme abaixo.  Em itálico os que já têm data de estréia por aqui. Estes três abaixo eu já vi e recomendo muitíssimo:

Todos os outros, de Maren Ade
A garota de lugar nenhum, de Jean-Claude Brisseau
Vic + Flo viram um urso, de Dnis Côtés

Os que mais quero ver:

Um estranho no lago, de Alain Guiraudie
Gravidade, de Alfonso Cuaron
Heli, de Amat Escalante
La paz, de Santiago Loza
Os três filmes (Downhill, O ringue, O inquilino) de Alfred Hitchcock
Dr. Mabuse 1 e 2, de Fritz Lang
Os donos, de Augustin Toscano e Ezequiel Radusky
A princesa das ostras, de Ernst Lubitsch
Viver na RFA, de Harun Farocki
Salvo, de Fabio Grassadonia e Antonio Piazza
Milius, de Joey Figueroa e Zak Knutson
Seduzido e abandonado – Os bastidores de Cannes, de James Toback
Shampoo, de Hal Ashby
Wrong Cops, de Quentin Dupieux
A dança da realidade, de Alejandro Jodorowsky
A filha de ninguém, de Hong Sang-Soo
Abuso de Vulnerável, de Catherine Breillat
Apenas Deus perdoa, de Nicolas Winding Refn
Até que a loucura nos separe, de Wang Bing
Backwater, de Shinji Aoyama
Bastardos, de Claire Denis
Blind Detective, de Johnnie To
Computer Chess, de Andrew Bujalski
Clear History, de Gregg Mottola
Joe, de David Gordon Green
Quando a noite cai em Bucareste ou Metabolismo, de Corneliu Porumboiu
Manuscritos não queimam, de Mohammad Rasoulof
Outrage Beyond, de Takeshi Kitano
Real, de Kyoshi Kurosawa
Sacro Gra, de Gianfrancesco Rosi
Sozinha, de Wang Bing
Spring Breakers, de Harmony Korine
Night moves, de Kelly Reichardt
Nós somos melhores, de Lukas Moodysson
O imigrante, de James Gray
Our Sunhi, de Hong Sang-Soo
Only lovers left alive, de Jim Jarmusch
Terra prometida, de Gus Van Sant
The canyons, de Paul Schrader
Ilusões satânicas, de Paul Schrader
Mishima, de Paul Schrader
Vivendo na corda bamba, de Paul Schrader
Tip top, de Serge Bozon
O rei da fuga, de de Alain Guiraudie
A imagem que falta, de Rithy Panh
A estação de rádio, de Nicolas Philibert
Em Berkeley, de Frederick Wiseman
O conhecido desconhecido: a era Donald Rumsfeld, de Errol Morris
O último dos injustos, de Claude Lanzmann
Metallica: Through the Never 3-D, de Nimród Antal
Crystal Fairy e o cactus mágico, de Sebastián Silva

Os que quero ver:

A grande beleza, de Paolo Sorrentino
Behind the candelabra, de Steven Soderbergh
Fading Gigolo, de John Turturro
Jovem e bela, de François Ozon
Michael Kohlhaas, de Arnauld des Pallieres
Nebraska, de Alexander Payne
Um time show de bola, de Juan José Campanella
Yella, de Christian Petzold
O verão da minha vida, de Nat Faxon e Jim Rash
Fruitvale Station, de Ryan Coogler
Invadindo Bergman, de Jane Magnusson e Hynek Pallas
A morte lhe cai bem, de Robert Zemeckis
The National: Mistaken for Strangers, de Tom Berninger
Feio, de Anurag Kashyap
Eu e você, de Bernardo Bertolucci
Suspensão da realidade, de Mike Figgs
The zero theorem, de Terry Gillian
Um castelo na Itália, de Valeria Bruni Tedeschi
Os corredores da morte, de Werner Herzog
Marcel Ophuls, um viajante, de Marcel Ophuls
Os fortes não descansam, de Alain Guiraudie

Os que tenho curiosidade:

Blue Jasmine, de Woody Allen
Como não perder essa mulher, de Joseph Gordon-Levitt
O mordomo da casa branca, de Lee Daniels
Obsessão, de Lee Daniels
A cidade abaixo, de Christoph Hochhauser
Dreileben: Algo melhor do que a morte, de Christian Petzold
A segurança interna, de Christian Petzold
As delicias da tarde, de Jill Soloway
O gigante egoísta, de Clio Barnard
Minha doce Pepper Land, de Hiner Saleem
Sophie Calle, sem título, de Victoria Clay Mendoza
Sarah prefere correr, de Chloé Robichaud
Contadores de Imagens, de Noelle Deschamps
Michael Haneke – Profissão: Diretor, de Yves Montmayeur
Os impostores do Hip Hop, de Jeanie Finlay
Sapi, de Brilhante Mendoza
Vosso ventre, de Brilhante Mendoza
Walesa, de Andrzej Wajda
O espírito de 45, de Ken Loach
Moebius, de Kim Ki-Duk




sexta-feira, setembro 20, 2013

cinemaison

Próxima segunda, uma noite imperdível no Cinemaison:

Às 18h, "O desprezo" (1963), de Jean-Luc Godard
Às 20, "A bela da tarde" (1967), de Luis Buñuel

terça-feira, setembro 17, 2013

the bling ring ***

É curiosa, porém compreensível, a decepção algo generalizada que marcou a recepção deste filme, tanto nos EUA quanto no Brasil. Esperava-se uma espécie de raio-x da sociedade contemporânea, seu consumismo, suas celebridades, seu cinismo, etc. Tudo isto está lá. Sofia Coppola, contudo, seria uma cineasta imparcial, sem um ponto de vista mais específico sobre a história. É bem verdade que Coppola se atém aos fatos cinematográficos, às cenas. Ela não simpatiza inteiramente com os personagens, mas tampouco se dispõe a julgá-los de maneira mais incisiva. O filme pode até mesmo parecer um pouco blasé, sobretudo, em seu final.

Quer dizer: muitas destas críticas não são absurdas, embora elas muitas vezes passem por cima da sensibilidade e do ritmo que Coppola imprime a este material. Coppola, como sempre, mostra-se muito mais interessada em delinear um certo estado. O estilo de “The Bling Ring” procura incorporá-lo. Um estilo que ágil, recheado de informações, marcado por colagens, que se contrapõe diretamente ao seu longa anterior. Acho que Kent Jones chegou ao nervo central não somente de “The Bling Ring”, mas do cinema mesmo de Sofia Coppola: seus filmes têm mais uma ambiência, em um sentido musical, do que uma trama. O filme me ganhou aos poucos. De repente, sinto-me seduzido e ao mesmo tempo absolutamente horrorizado. As luzes se ascendem e os sentimentos, ainda a serem conjugados, permanecem. Coppola sabe o que faz.  

sábado, setembro 14, 2013

quarta-feira, setembro 11, 2013

sem dor, sem ganho **

Eu não tenho lá muita paciência com o Michael Bay. Tratava-se, contudo, de uma comédia com Mark Wahlberg, e, sobretudo, Dwayne “The Rock Johnson”. Animei-me e fui ver “Sem dor, sem ganho”. Disse não ter muita paciência, mas tenho achado por demais preguiçoso insistir que os constantes deslocamentos temporais e espaciais que marcam os blockbusters americanos seja fruto de uma espécie de amnésia histórica ou de uma indefensável incompetência. Essa é a forma mais tradicional de criticar Bay: ele não saberia decupar, não teria noções de escala ou ritmo, e seus filmes se moveriam sem direção, graça ou sentido.

Eu gosto cada vez mais do termo cunhado por Steven Shaviro, “post-continuidade”, para designar um cinema em que a preocupação com certos efeitos imediatos triunfa sobre qualquer questão a respeito de uma continuidade mais ampla, seja no nível do plano-a-plano, seja no âmbito narrativo. Bay, por exemplo, não é nenhum pouco ingênuo. Para ele, a continuidade não parece mais ser preponderante para delinear a geografia de uma ação, ancorando-a claramente no tempo e no espaço. A sequência torna-se uma colagem de fragmentos irregulares de ângulos, explosões, lutas, perseguições, e movimentos violentamente acelerados. Não há nenhum sentido de continuidade espaço-temporal. O que importa é entregar uma série contínua de choques para o público.

Talvez a abordagem maximalista e impiedosa de Bay tenha menos a ver com a destruição ou a ignorância em relação a uma certa noção de cinema e mais com a ambição de esboçar um outro cinema. Bay está muito claramente interessado no calor do momento, imprime um tom “impressionista” que alimenta uma relação diversa com as noções de personagem, espaço e trama, e não está lá muito interessado nos valores clássicos da continuidade – embora, é preciso dizer, a continuidade ainda persiste em alguns momentos, sendo respeitada ocasionalmente e de forma oportunista.

“Sem dor, sem ganho” não curou minha impaciência, devo dizer. Mas é um filme de questões extremamente importantes. Lugo é um personagem que acredita ser antipatriótico “not go for it”. Que dizer: com esforço e perseverança suficientes devemos nos tornar “super-homens” e viver no luxo. O filme, por sua vez, bate várias vezes na tecla de que o que estamos vendo de fato aconteceu. Bay não julga exatamente seus personagens. “Sem dor, sem ganho” conspira a favor de seus protagonistas. O que não quer dizer que suas ações sejam legitimadas. Algo diferente se passa. O desconforto que algumas situações geram no espectador é logo em seguida diluído em nome de uma certa noção de prazer. Talvez haja cinismo nisso tudo, embora eu tenha minhas dúvidas. Certeza mesmo é a de que Bay é um dos cineastas mais representativos do tempo em que vivemos e do cinema de nossa época.

domingo, setembro 08, 2013

denis e assayas

Eu ainda não conhecia esses vídeos. Pelo que entendi, o Walker Art Cente, em Minneapolis, organiza algumas retrospectivas e convida críticos/teóricos para gravar entrevistas com cineastas. Ainda não pude ver todos, mas gostei bastante destes dois:

Olivier Assayas e Kent Jones:



Claire Denis e Eric Hynes:



sexta-feira, setembro 06, 2013

prova de amor ****

Gosto bastante deste filme. Já o vi algumas vezes. Gosto dos atores, sobretudo, Paul Schneider. Gosto dos diálogos: “Você já viu a natureza cometendo um erro”? Esta me parece uma das linhas mais sensacionais do cinema. Gosto da simbologia heraclitiana que o longa evoca. Gosto da fluência que o filme busca o tempo todo. O longa é também esta tentativa por uma representação sensualista, que muito apontou-se como sendo influência de Terrence Malick. Gosto da maneira como a relação entre eu, espectador, e o filme parece intermediada por afetos e sensações. Gosto como a separação do casal se dá sem culpas. Neste sentido, é uma aposta que o filme nos convida a fazer. Uma coisa bonita, parece-me.

Da última vez que vi “Prova de amor” (2002), esta semana, dei uma olhada nos extras do DVD. David Gordon Green, em entrevista, diz que tinha que fazer aquele filme o mais rápido possível, que era preciso fazê-lo como uma equipe jovem, que era imprescindível colocar-se à altura daquele mundo constituído em filme. É interessante ver ele falando desta urgência, algo que “Prova amor” dissemina desde o primeiro plano. Aliás, um plano em especial, o do cachorro aleijado, me fez lembrar do final de “Stroszek” (1976), de Herzog, quando uma galinha dança por alguns minutos. Tentamos agregar algum sentido ao que vemos. Mas é inútil esforçar-se para ser convincente. O mundo não é tão racional, nem irracional. É irracionável, nada mais do que isso. A razão constata os seus limites e nega a si mesma. Isso diz muito sobre os dois longas. Curioso. De repente, peguei-me pensando a letra de uma música de Jeff Buckley, “Lover, You Should've Come Over”:

I feel too young to hold on
I'm much too old to break free and run

Maybe I'm too young
To keep good love from going wrong

Tudo ver a ver. Escutem a música:

terça-feira, setembro 03, 2013

frances ha ***

Eu gostei deste filme. Talvez tenha gostado mais da crítica do Calil (abaixo) do que do filme propriamente dito... Não sei... “Frances Ha” é fofo como sua protagonista, e isto é ótimo. Eu, contudo, assistindo o filme como um brasileiro, carioca, às voltas com aluguéis altíssimos, com uma enorme desigualdade social, altos índices de criminalidade, com parcas oportunidades de trabalho, péssimos serviços e salários, não consigo deixar de ver um pouco de falsidade nas aventuras e desventuras de Frances. Talvez falsidade não seja a palavra certa. O que sinto é uma distância tão grande daquela realidade que, por vezes, me impede de empatizar com a personagem.


RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA

É preciso estar de mal com a vida, ter o coração de pedra, ser ruim da cabeça ou doente do pé para resistir à cena de "Frances Ha" em que a protagonista sai correndo e dançando pelas ruas de Nova York ao som de "Modern Love", de David Bowie.

Não deixa de ser um golpe baixo (garota encantadora e desengonçada + clássico absoluto de Bowie).

Mas é um golpe baixo ansiosamente aguardado: aquele que vai libertar o cinema independente americano de anos de pretensão e cinismo para oferecer um momento de prazer fugaz, frugal.

"Frances Ha" é filho bastardo da primeira nouvelle vague (do Godard que disse que tudo de que se precisa para fazer um filme é uma arma e uma garota) com o mumblecore (o subgênero de baixo custo, diálogos naturalistas e personagens balbuciantes).

Não por acaso, "Frances Ha" tem na trilha músicas de Georges Delerue (o compositor "oficial" da nouvelle vague) e é escrito e protagonizado por Greta Gerwig, musa do mumblecore. Frances, sua personagem, se aproxima dos 30 anos assolada pela falta de perspectivas.

Ela é assistente em uma companhia de dança, mas não é boa o suficiente para virar bailarina.

Como uma moderna Cabíria (a esperançosa personagem de Giulietta Masina em "Noites de Cabíria", de Fellini), Frances enfrenta cada revés com otimismo incorrigível "" o mesmo que, diante de uma pequena vitória, a leva a dançar pelas ruas.

Com "Frances Ha", o diretor Noah Baumbach confirma o talento demonstrado em "A Lula e a Baleia" (2005) e se livra de certos maneirismos do passado.

De quebra, oferece um retrato preciso sobre aquela fase da vida em que não sabemos exatamente que rumo tomar, o que fazer da vida "" uma fase que, em alguns casos, teima em durar para sempre.

sexta-feira, agosto 30, 2013

pára tudo

"Filme demência" (1986), um dos grandes longas de Carlão Reichenbach, inteiro no Youtube:

quarta-feira, agosto 28, 2013

chamada a cobrar ***

Estava revendo com um enorme prazer algumas cenas de “Onde andará Dulce Veiga” (2008), de Guilherme de Almeida Prado. Lembro que já havia gostado bastante deste filme quando o vi pela primeira vez. Lembro inclusive de uma discussão que tive na época com amigo. Ele rebatia o meu apreço pelo longa discorrendo sobre um certo exagero, um tom desmedido, uma espécie de artificialismo apoteótico... Nada disso deixava de ser verdade. Eu concordava com meu amigo. O que me sentia incapacitado a fazer era enxergar estes pontos como fraquezas ou deficiências. Era pra mim impossível separar a extravagância por vezes descabida do resto. Quer dizer: aquilo diz intimamente respeito ao filme. É o que o torna diferente.

A lembrança desta conversa me ajudou na experiência de ver “Chamada a cobrar”, o novo filme de Anna Muylaert. Algo me incomodava neste filme. A simplicidade do registro muitas vezes me parecia preguiça. Um certo artificialismo, especialmente no som, também entrava mal no ouvido. As atuações um tanto canastras. Eu individualizava estes elementos e sentia-me incomodado. Aos poucos, contudo, o filme foi me ganhando. Havia uma espécie de ascese rolando, um voto de simplicidade. De repente, “Chamada a cobrar” me falava de tantos assuntos. Muylaerte é uma cineasta diferente.  Seria um erro, uma imprecisão, insistir em uma análise interessada em singularizar algumas opções ou procedimentos? Não sei. O fato é que por vezes aquilo que inicialmente nos parece fraqueza é na verdade de onde o filme tira sua força, sua singularidade.

Sobre “Chamada a cobrar”, segue a crítica de Inácio Araújo:

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Um filme pode ser definido, em boa medida, como acúmulo de detalhes. Em "Chamada a Cobrar", eles estão presentes, às vezes de maneira quase ostensiva.

Enquanto três irmãs se engalfinham, surge a imagem do cão da família, indiferente àquela cena banal. A indiferença é uma ideia constante no filme de Anna Muylaert.

Enquanto Clarinha, senhora de meia-idade, executa atos desesperados, como comprar todos os bichos de pelúcia de uma loja de estrada, as pessoas observam-na como um ser exótico ou de quem se pode tirar vantagem.

Na verdade, Clarinha recebeu uma chamada telefônica a cobrar, dessas que há algum tempo anunciavam um sequestro. Um falso sequestro.

O que Muylaert observa a partir desse fato mínimo --e de um orçamento mínimo: quase todo o filme se faz de uma atriz, Beth Dorgan, que interpreta Clarinha, e uma voz ao telefone, a do falso sequestrador-- é admirável.

Existe, por um lado, a alienação da mulher burguesa, instalada em sua residência confortável, assistida por uma empregada doméstica com alma de escrava. Seu mundo restringe-se à família.

Disso nos dá prova outro detalhe precioso. Quando alguém lhe pergunta onde está, ela responde, hesitante: "Realengo...", com a voz incerta de quem nunca sequer imaginou que tal lugar existisse.

Visto por Muylaert, portanto, o episódio não é apenas um fato policial ou mesmo social (envolvendo o ressentimento do falso sequestrador).

A solidão da mulher é outro aspecto decisivo do drama: a solidão não é só em face do homem que lhe passa ordens pelo celular. É a solidão que a coloca em posição submissa. É o que a impede de perceber incoerências e inverossimilhanças nas falas do bandido.

Esse estranho fenômeno que foram os falsos sequestros ressurge aqui a partir de elementos mínimos, onde a observação do registro social não amesquinha o humano.

Clarinha não é só uma rica ociosa nem o bandido é só um malfeitor: estamos diante de uma construção minuciosa.

É disso que se faz o filme, de construção, assim como o falso sequestrador, que constrói sua cena, servindo-se de elementos sonoros para dominar sua vítima e criar uma sugestiva inversão na ordem de classes sociais (quem dá ordens, quem obedece).

Os diálogos entre Clarinha e o bandido são claros quanto à maneira pela qual o sequestrador passa a controlar mente e coração de sua vítima. São também uma preciosa peça a nos falar sobre o miserável abismo não apenas de classe social, mas antes de tudo cultural que o Brasil soube tão bem produzir para, ali, melhor plantar duradouras desgraças.

quinta-feira, agosto 22, 2013

filmes

Dois clássicos brasileiros hoje:

- às 18h30, no MAM, "A idade da terra" (1980), de Glauber Rocha, será exibido com a presença do montador do filme, Ricardo Miranda.

- às 20h, no IMA, passa "Vidas secas" (1963), de Nelson Pereira dos Santos.

E, na segunda, é noite de Bruno Dumont no Cinemaison: às 18h, será exibido "A vida de Jesus" (1997), e, às 20h, é a vez de "Flandres" (2006).

terça-feira, agosto 20, 2013

na neblina ***

Eu não tinha gostado muito de “Minha felicidade” (2010), o primeiro filme de Sergei Loznitsa. Eram muitas as razões: um certo fatalismo, o personagem envolto num destino incontornável, alguns cacoetes de estilo, um esforço visível de emulações de outros filmes/cineastas, etc. O que não quer dizer que “Minha felicidade” não tivesse seus momentos. Loznitsa é um documentarista de origem, e sua estreia na ficção carrega uma atenção incomum às locações e cenários. Universos e imaginários são constituídos. É curioso como tanto “Minha felicidade” quanto este mais novo “Na neblina” trazem consigo um desejo norteador, uma certa âncora e ou bússola, que diz respeito a um imaginário russo que remonta à Segunda Guerra Mundial. “Na neblina” é um vislumbre da ocupação nazista na Bielorússia, uma espécie de lenta meditação sobre moralidade e mortalidade. O forte de Loznitsa permanece: seu trabalho faz espaços, elementos de cena, os corpos, falarem. Falarem algo anterior ao filme. É que vejo na primeira sequência do filme. Lembro de Bergson, que dizia, em Matéria e memória, que a fotografia, se há fotografia, já havia sido tirada, no próprio interior das coisas. Além disso, embora no fim a neblina tome conta da imagem, Loznitsa demonstra desta vez muita compaixão por seus personagens.

sábado, agosto 17, 2013

inquietos ***

“Inquietos” anda passando na HBO. Acabei revendo algumas partes. A princípio, o filme estaria mais para “Gênio Indomável” do que para “Elefante” (2003). Mas é preciso cuidado. O jovem como mito nunca esteve muito longe do cinema de Van Sant. Em “Inquietos”, ele se aproxima mais uma vez deste universo com muito carinho e uma certa dose de fetichismo. Como ocorre em muitos de seus filmes, o figurino patenteia os personagens (Annabel é uma curiosa citação-homenagem a Jean Seberg e à Nouvelle vague), sempre em relação dissonante com as regras que a sociedade nos impõe. “Inquietos” é uma espécie de balada cinematográfica. Van Sant caminha entre o romance teen e o filme de doença terminal, gêneros com os quais já possui uma certa afinidade, aposta em um ambiente encantador e cria pequenos momentos de excentricidade mágica.

Se em “Encontrando Forrester” e “Gênio indomável” havia um enredo de auto-superação sob a orientação de um adulto, e em “Elefante”, entrava em cena uma espécie de rito de passagem, mas uma passagem de energias, corpos e nuvens, “Inquietos” fica no meio do caminho. O que une os trabalhos mais radicais de Van Sant (de “Gerry” a “Paranoid Park”) é uma mise-en-scène imersiva que se abre para um fluxo sensório temporal e que se sobrepõem à narrativa. São filmes que caminham entre o absolutamente abstrato e um fiapo de história. “Inquietos”, ao contrário, parece muitas vezes se ressentir da necessidade de contar uma história. Os personagens ganham psicologia e suas motivações nos são reveladas, camada por camada, em cenas por demais funcionais (como quando descobrimos o que aconteceu com os pais de Enoch).


Ainda assim, Van Sant parece por vezes querer expressar seus personagens por meio da estilização e do desenho de som, nos oferece momentos dilatados e absolutamente abertos e engajados, procurando passar um sentimento de angústia, descoberta e desespero, através de uma linguagem que beira o poético, sem muito preciosismo. Talvez a grande chave deste filme, como bem sublinhou Eduardo Valente lá na Cinética, seja mesmo Hiroshi, o fantasma camarada de Enoch. Van Sant dá a este personagem um tempo e uma importância que por vezes beira o ridículo, enquanto noutras confere uma força, um desejo comovente de se aproximar e compreender o universo retratado.  

quinta-feira, agosto 15, 2013

terça-feira, agosto 13, 2013

alec baldwin e thom york

Alec Baldwin tem um programa de rádio/online: "Here's the Thing". Neste, ele conversa com Thom York:

domingo, agosto 11, 2013

links

- Entrevista com Raya Martin:


- O X do problema, segundo Inácio Araújo

- Jonathan Rosenbaum sobre “Irma Vep” (1996), de Olivier Assayas

- Boris Karloff e sua receita de guacamole

- FergusDaly organizou e disponibilizou vários de seus textos

Dois númerous da Comparative Cinema

Textinho sobre um grande filme, “The swimmer” (1968), de Frank Perry

- J. Hoberman sobre “Hanna Arendt” (2012)

-  RaulArthuso sobre Bernardet e as comédias

 - Jonathan Rosenbaum apresenta “Greed” (1924), de Erich von Stroheim:

sexta-feira, agosto 09, 2013

crazy horse ***

Ainda revendo algumas cenas de “Crazy Horse” (2011). Frederick Wiseman estreou no cinema com “Titicut follies” (1967), sobre o dia-a-dia do manicômio judiciário de Bridgewater, em Massachusets, afirmando uma postura ainda mais radical dentro do cinema direto americano, buscando diminuir ao máximo a interferência da equipe e da câmera sobre o meio documentado e mantendo um forte controle narrativo através da montagem. De lá para cá, já são mais de 30 documentários nos quais Wiseman registra as relações entre o espaço, o tempo, os corpos, as leis e os poderes institucionais: da prisão à escola, da polícia ao laboratório científico, do zoológico à moda. Um projeto ambicioso, perseverante e paciente de cartografia das instituições americanas. Um projeto no qual Wiseman investe toda uma vida. 

“Crazy Horse” se divide, de um lado, nos movimentos burocráticos e questões administrativo-financeiras da casa e do novo espetáculo, e, do outro, no trabalho das dançarinas, com ênfase nos ensaios. O foco de Wiseman esta na verdade justamente em uma noção de processo. Assistimos a reuniões, momentos de introspecção e reflexão, entrevistas (aproveitando a presença de equipes de televisão que passam pela casa), e, sobretudo, os ensaios. Wiseman registra o trabalho das dançarinas em takes longos e faz escolhas cuidadosas de encenação para potencializar a ação e o erotismo de alguns movimentos. É curioso: as imagens dos ensaios não nos chegam carregadas de algum peso simbólico ou de uma missão discursiva; elas valem por si mesmas. 

A casa parisiense, como é de costume no cinema de Wiseman, é visto como uma espécie de instituição, especialmente no que diz respeito às diversas disputas de poder que a compõe. Contudo, talvez o grande tema deste documentário seja o desejo. A projeção do desejo sempre esteve em jogo no cinema. Wiseman ilustra o conceito e seu funcionamento. Aposta também em uma longa desconstrução, com mais de 2 horas de ensaios técnicos dos números criados por Philippe Decouflé. Este, aliás, aparece a todo mundo discutindo o termo desejo. Wiseman não individualiza as dançarinas, quase sempre fragmentadas em bundas, pernas, seios, braços... As apresentações de dança nos convencem certamente de que este é um cabaré diferente. Wiseman e seu operador de câmera ajudam bastante, usando uma grande variedade de géis e filtros, e aproveitando a iluminação do próprio espetáculo. Por vezes, a impressão é a de estarmos vendo uma espécie de caleidoscópio para maiores. É como se os corpos das bailarinas fossem elementos cinematográficos. 

quarta-feira, agosto 07, 2013

esquinas no now

O NOW da NET disponibilizou os seis primeiros episódios da primeira temporada do "Esquinas" (Canal Brasil) em HD. Vejam por lá: Wagner Moura em uma bateria de entrevista; Roberto Jefferson e a retórica; o trabalho da equipe da rádio Globo no final do campeonato carioca; um designer cujo sonho maior é construir uma réplica  de Versalhes em massinha...

segunda-feira, agosto 05, 2013

zatoichi ***

Outro dia, me toquei que ainda não vi os dois últimos Kitanos: “Outrage” 1 e 2. Se não me falha a memória nenhum dos dois passou no Festival do Rio...

Acabei, contudo, revendo “Zatoichi” (2003). Grande filme. Divertidíssimo. Sempre se falou de como Kitano é capaz de ser violento e sensível ao mesmo tempo, mas, em geral, esquecemos-nos de mencionar o quanto ele pode ser engraçado. Em “Zatoichi”, Kitano é um samurai cego que vive do jogo e de prestar serviços como massagista. Integrante do imaginário popular japonês, Zatoichi já foi tema de mais de 20 filmes entre 1962 e 1989, todos protagonizados pelo herói nacional Shintaro Katsu. A versão de Kitano é inspirada nos contos de Kan Shimozawa e traz o andarilho recém chegado a uma cidadezinha controlada por um clã de malfeitores. Lá ele encontra abrigo na casa de uma jovem e solitária senhora, e acaba ficando amigo do sobrinho azarado dela (brilhantemente interpretado por Guadalcanal Taka) e de um casal de irmãos viajantes em busca de vingança pelo assassinato dos pais.

A história, no entanto, pouco importa. O longa começa e logo estabelece uma relação com o spaghetti western (o personagem kamikaze e andarilho e o cenário lúdico em que a violência explode) e com os filmes de gangster americanos (as violentas ações da gangue Ginzo). Aliás, assim como Sergio Leone fez com o western, Kitano não roda uma aventura de samurais, mas um filme sobre a mitologia de um gênero cinematográfico. O Ronin mercenário, a honra como sentimento máximo, a aldeia indefesa, o herói que tira da deficiência a sua força, os cenários líricos... A comicidade é o que Kitano acrescenta. E assim, ao lado dos tradicionais arquétipos dos filmes de samurai japoneses, o cineasta adiciona um mendigo bêbado ali, uma gueixa transformista aqui, um metrosexual acolá, um menino com problemas mentais que só pensa em se tornar samurai, viciados em jogo, uma apresentação musical à la Stomp, jatos de hemoglobina do tipo “Monty Phyton e o cálice sagrado”... De repente, no meio disso tudo, eis que um bandido, com pavor da habilidade de Zatoichi, saca uma arma de fogo!      

Enfim, “Zatoichi” é um filme híbrido e extravagante.

sábado, julho 06, 2013

viva a indústria cultural

Estava voltando pra casa. Tinha acabado de ver “Van Gogh” (1991), outra grande obra de Maurice Pialat. Peguei um taxi, em frente ao Cine Humberto Mauro.

“Boa noite. Pra rodoviária. Por favor”.

O taxista acenou com a cabeça e permaneceu em silêncio. Alguns minutos se passaram. De repente, aumentou o volume do rádio. Mais alto. E mais alto. A impressão era a de que tentava se conter, mas não conseguia. O volume estava tão alto, aquilo era tão fora do normal, que fiquei um pouco sem reação. Uma música começava. Era a Dido. Quando me inclinei para falar com o taxista, ele começou a cantar. Alto, e num inglês perfeito. Paramos num sinal. Ele fechou os olhos, e curtiu o refrão. Eu precisava participar daquilo. Quando chegou a vez do refrão, tentei cantar com ele. O taxista se voltou pra mim e sorriu. Éramos, ambos, um único sorriso.

A música termina. A rodoviária está próxima. Eu me apresento. Ele responde. Apertamos as mãos. Tentei pagar. Ele não deixou.

“O dinheiro vai sujar o momento”, disse ele. “Só não esqueça do Joel do taxi aqui de BH, fã da Dido”.

Essa era a música:


quinta-feira, julho 04, 2013

aos nossos amores *****

“Aos nossos amores” é um dos meus filmes prediletos. Eu o vi pela última vez, a segunda na telona, em BH, faz algumas semanas, e o filme ainda vive comigo. É sempre assim. Ficamos juntos por um tempo. Vira e mexe, lembro-me de uma ou outra cena: os primeiros planos ao som de Klaus Nomi; Pialat e o diálogo sobre a covinha de Suzanne; mãe, filho e filha em um primeiro momento de absoluto descontrole; pai e filha, no ônibus, a caminho do aeroporto. Na verdade, talvez não sejam exatamente as cenas que ficam comigo. É outra coisa. Talvez uma certa energia, uma força, uma sensação que o filme propaga, dissemina. As cenas são sempre rompidas, descontinuadas, entremeadas por elipses (que não se sublinham como tais). Difícil dizer quando uma tomada começa ou termina. Os planos têm seu eixo constantemente quebrado. A luz, o quadro, as atuações esbanjam uma certa vontade anárquica (porém nada aleatória). A montagem preserva um fluxo contínuo entre as imagens, embora os cortes sempre deixem escapar ambas as extremidades do plano, seu influxo, antes que seja uniformizado em uma forma estável.

Pialat filma de maneira a privilegiar o aqui e o agora, a força de um momento, a presença inspirada de um ator, a energia singular de uma ação.  É o cinema da irredutibilidade do afeto. O que vejo então é Suzanne como alguém marcado por uma espécie de impureza fundamental. Ela é um caos, e Pialat ambiciona devolver as cenas ao caos original do qual elas brotam.  Abaixo, a música de Klaus Nomi que recheia os planos iniciais (especialmente o plano aberto de Suzanne de costas, no barco, com o mar ao seu redor) e finais (Suzanne no avião olhando para fora do quadro, talvez para uma janela). A personagem, bela e jovem, estende o olhar ao horizonte, ao futuro, enquanto Nomi, contra-tenor alemão que morreu de Aids em 1983, aos 39 anos, canta uma ária do século XVII, "The Cold Song":



What power art thou, who from below
Hast made me rise unwillingly and slow
From beds of everlasting snow
See’st thou not ( how stiff )2) and wondrous old
Far unfit to bear the bitter cold,
I ( can scarcely move or draw my breath )2)
Let me, let me freeze again to death.3)

terça-feira, julho 02, 2013

dante 2

Eu resolvi rever "Looney Tunes - De Volta à Ação" (2003), outro filme de Joe Dante. E o que mais me impressionou foi uma certa continuidade em relação a "A Segunda Guerra Civil". Uma continuidade no que diz respeito a algo como um espírito, um impulso. São filmes absolutamente diferentes, embora com personalidades semelhantes. Bem curioso.  

domingo, junho 30, 2013

a segunda guerra civil ***

Eu ainda não tinha visto este filme de Joe Dante. O longa, na verdade, faz parte de uma espécie de trilogia da guerra, iniciado em “Matinee” (1993) e encerrada em “Pequenos Guerreiros” (1998). A trama começa quando o governador de Idaho (Beau Bridges) decide fechar as fronteiras de seu estado a todos os imigrantes estrangeiros, impedindo, sobretudo, a entrada de um grupo de órfãos paquistaneses. O presidente (Phil Hartman, em estado de graça), preocupado com a possível reeleição e aconselhado por um poderoso lobista (James Coburn), acaba intervindo. Em meio a tudo isso, uma estação de TV se desmembra em várias frentes, acompanhando o arrefecimento da crise.

É bem curioso o curto-circuito que Dante promove em relação à noção de “popular”. Quer dizer: não há como ver um filme destes e não sentir uma proximidade com o mundo, digamos, pop. Mais do que isso: Dante me parece sempre atrás de um público, alimentado por uma vontade de diálogo. Ele não tem nenhuma vergonha de parecer sentimentalóide, melodramático, ou de mau gosto. Ao contrário, Dante conjuga isso com um certo refinamento estético e político. “A Segunda Guerra Civil” é um filme sobre o consumo da guerra, em que a política é nada mais do que um misto de ações e ausências deliberadas.  

O relevo está sempre no elemento humano - é preciso sublinhar também a desenvoltura virtuosa com que Dante trabalha seu elenco numeroso. As situações são absurdas, porém absolutamente lógicas. Dante nos leva da comédia à tragédia, passando pela farsa. Ao fim, resta uma crítica à cultura americana feita de dentro. Dante faz parte daquilo que critica. O filme termina com a bandeira americana balançando ao vento, enquanto um repórter em off nos fala do recorde de audiência do episódio final de uma sitcom americana (que acabou influenciando a disputa entre o governador e o presidente). Um pouco antes, o personagem de James Earl Jones discursa sobre como nós (americanos? humanos?) somos como uma obra de arte inacabada, um work in progress; que talvez possamos um dia alcançar nosso potencial, mas que, no momento, ainda pintamos com sangue.

quinta-feira, junho 27, 2013

andre de toth

Descobrir um cineasta é sempre algo instigante. Aconteceu comigo semana passada, quando vi pela primeira vez três filmes do húngaro radicado nos EUA Andre De Toth: “Ramrod” (1947), “Pitfall” (1948) e “Man in the Saddle” (1951). De Toth é um cineasta de estilo e visão de mundo escorregadios - especialmente no que concerne ao cinema hollywoodiano clássico. Dirigiu muitos noirs e westerns, absolutamente diferentes. Na verdade, me parece que De Toth não faz muita diferença entre os gêneros. O que se privilegia é uma certa noção de precisão dramática, uma atenção incomum (a estes gêneros) a detalhes e gestos dos personagens, e uma preocupação primordial com a constituição de uma atmosfera.


O cinema de De Toth me parece obsecado por complexos efeitos causados pela violência, por uma certa noção de traição, não apenas doméstica, embora ela também esteja presente, mas de valores - apesar de terem muito em comum, De Toth alimenta um tom predominantemente humanista que contrasta com a frieza de um Fritz Lang. Esse algo tortuoso, tenso, quase palpável, que marca o mundo cinematográfico de De Toth, se conjuga com uma certa lentidão ou leveza, com uma espécie de mudez que define na maioria das vezes os protagonistas de seus filmes. Essa equação me espanta.

Os filmes desfilam uma continuidade inquebrantável, recheada de detalhes inventivos, de transições curiosas entre os planos. Em “Ramrod”, por exemplo, quando Connie convence Bill a espantar seu próprio gado, seu braço erguido conecta-se em fade com o gado correndo a esmo pelo campo. Um momento passional e traiçoeiro se dissolve em violência crua. Este filme em particular é marcado por outras transições mais sutis, recheadas por movimentos de câmera a unir o dentro e o fora, o externo e o interno, como se tudo fizesse parte de uma mesma unidade, decaída.

Martin Scorsese gosta de chamar De Toth de "contrabandista", um diretor que importou ideias incomuns ao âmbito do cinema clássico de Hollywood. Ele tem toda razão. “Pitfall”, por exemplo, é um noir extremamente original sobre, pasmem, os efeitos provocados pela vida em família, na família americana dos anos 50. O filme faz uso de tipos convencionais (a femme fatale, o vilão grande e bruto, a mulher inocente e ofendida e o anti-herói), embora com o passar dos minutos eles se transformem em formas mais complexas, menos identificáveis. De Toth dá espaço a cada um de seus personagens, que, ao longo do filme, tentam explicar e justificar seus medos, desejos e ações. E será de uma equação entre estas justificativas, medos, desejos e ações que “Pitfall” alcançará seu desfecho. Desfechos ambíguos, sempre. Não exatamente felizes. Não exatamente tristes. Seja em “Pitfall”, “Ramrod” ou “Man in the Saddle”.    

terça-feira, junho 25, 2013

rivette no ccbb

25/06 – Terça-feira

15h – Céline e Julie vão de barco (Céline et Julie vont en bateau, 1974, 193’)
19h – Sessão de abertura: Paris nos pertence (Paris nous appartient, 1961, 136’)

26/06 – Quarta-feira

14h – Cineastas, do nosso tempo: Jean Renoir o patrão 1a parte: em busca do relativo  (Cinéastes, de notre temps: Jean Renoir le patron,  La recherche du relative, 1967, 94’)
16h - Merry-go-round (1981, 160’)
19h30 – Não toque no machado (Ne touchez pas la hache, 2007, 137’)

27/06 – Quinta-feira

14h - Cineastas, do nosso tempo: Jean Renoir o patrão, a direção de atores (Cinéastes, de notre temps: Jean Renoir le patron, La direction d'acteur, 1967, 95’)
16h - Paris nos pertence (Paris nous appartient, 1961, 136’)
19h – O amor por terra (L’amour par terre, 1984, 125’)

28/06 – Sexta-feira

14h - Cineastas, do nosso tempo: Jean Renoir le patron, a regra e a exceção (Cinéastes, de notre temps: Jean Renoir le patron: La règle et l'exception, 1967, 95’)
16h - Noroeste (Noroît, 1976, 145’)
19h - Um passeio por Paris (Le pont du nord, 1981, 129’)

29/06 – Sábado

16h – Joana, a virgem I – As batalhas (Jeanne, la pucelle: Les batailles, 1994, 160’)
19h – Joana, a virgem II – As prisões (Jeanne, la pucelle: Les batailles, 1994, 176’)

30/06 – Domingo

17h – Out 1: Espectro (Out 1: Spectre, 1974, 225’)

01/07 – Segunda-feira

14h - Não toque no machado (Ne touchez pas la hache, 2007, 137’)
16h30 - Duelle: uma quarentena (Duelle: une quarentaine, 1976, 121’)
19h - Defesa secreta (Secret défense, 1998, 170’)

02/07 – Terça-feira 

Não há sessões

03/07 – Quarta-feira

14h - A história de Marie e Julien (Histoire de Marie et Julien, 2003, 150’)
17h - Céline e Julie vão de barco (Céline et Julie vont en bateau, 1974, 193’)

04/07 – Quinta-feira

14h - Defesa secreta (Secret défense, 1998, 170’)
17h - O truque do pastor (Le coup du berger, 1956, 28’) + 36 vistas do monte Saint Loup (36 vues du mont Saint Loup, 2009, 84’)
19h - A religiosa (La religieuse, 1966, 135’)

05/07 – Sexta-feira

14h - Um passeio por Paris (Le pont du nord, 1981, 129’)
16h30 - Merry-go-round (1981, 160’)
19h30 - Duelle: uma quarentena (Duelle: une quarentaine, 1976, 121’)

06/07 – Sábado

16h - Noroeste (Noroît, 1976, 145’)
19h - O truque do pastor (Le coup du berger, 1956, 28’) + 36 vistas do monte Saint Loup (36 vues du mont Saint Loup, 2009, 84’)

07/07 – Domingo

17h - Quem sabe (Va savoir, 2001, 220’)

08/07 – Segunda-feira

16h - A história de Marie e Julien (Histoire de Marie et Julien, 2003, 150’)
19h - O morro dos ventos uivantes (Hurlevent, 1985, 130’)

09/07 – Terça-feira

Não há sessões

10/07 – Quarta-feira

14h - O bando das quatro (La bande des quatre, 1989, 160’)
17h - A bela intrigante (La belle noiseuse, 1991, 238’)

11/07 – Quinta-feira

14h - Jacques Rivette, o vigilante, dir. Claire Denis (Jacques Rivette, le veilleur, 1990, 124’)
16h30 - O morro dos ventos uivantes (Hurlevent, 1985, 130’)
19h30 - Debate: Jacques Rivette – A lei, o segredo e o perigo (com a participação dos curadores Luiz Carlos Oliveira Jr e Francis Vogner dos Reis e do crítico de cinema Ruy Gardnier)

12/07 – Sexta-feira

14h - Amor Louco (L’amour fou, 1969, 252’)
19h - Paris no verão (Haut bas fragile, 1995, 169’)

13/07 – Sábado

16h - O bando das quatro (La bande des quatre, 1989, 160’)

14/07 – Domingo

16h - A bela intrigante (La belle noiseuse, 1991, 238’)

15/07 – Segunda-feira

14h - Amor Louco (L’amour fou, 1969, 252’)
18h30 - Paris no verão (Haut bas fragile, 1995, 169’)

sexta-feira, junho 21, 2013

mam e ims

Estranho falar sobre qualquer outra coisa neste momento.

Amanhã, contudo, passa no MAM um dos meus filmes preferidos: “Ladrões de Cinema” (1977), de Fernando Cony Campos.

Neste mesmo dia e horário, o IMS exibe cópia restaurada do majestoso “Eu acuso” (J’Accuse, 1919), de Abel Gance.

No MAM ainda tem neste fim de semana “O Signo do Caos” e “Carnaval Atlântida”.

Vejam abaixo:

MAM

sab 22

16h – Ladrões de cinema de Fernando Cony Campos. Brasil, 1977. Com Milton Gonçalves, Antônio Pitanga, Wilson Grey. 127’.

18h – Carmaval Atlântida de José Carlos Burle. Brasil, 1952. Com Oscarito, Grande Otelo, Eliana. 95’.

dom 23

16h – Amenic – Entre o discurso e a prática de Fernando Silva. Brasil, 1984. Com Joel Barcellos, Paula Gaitán, Aldine Müller. 95’.

18h – O Signo do Caos de Rogério Sganzerla. Brasil, 2005. Com Helena Ignez, Otávio Terceiro, Gionava Gold. 80’.

IMS

sab 22

16h00 - Eu acuso (J’Accuse), de Abel Gance (França, 1919. 166’)

dom 23

16h00 - Eu acuso (J’Accuse), de Abel Gance (França, 1919. 166’)

quarta-feira, junho 19, 2013

repaginada

Dei uma revisada nos links, retirando alguns, acrescentando outros. Vale a vasculhada. E enquanto o próximo post não chega:

segunda-feira, junho 17, 2013

cinemaison

Hoje, no Cinemaison, sessão dupla de de Abdellatif Kechich. Às 18h, passa "A esquiva" (2003), e, em seguida, às 20h, "A culpa de Voltaire" (2001).

sábado, junho 15, 2013

links

- Texto apaixonado de Ignatiy Vishnevetsky sobre o falecido Roger Ebert

- Luc Moullet sobre Cecil B. Demille

- Gilberto Perez sobre Dovzhenko

- Uma longa e recente entrevista com David Cronenberg

- Steven Shaviro sobre o novo no cinema

- Dossiê sobre Allan Dwan

- Kent Jones sobre Ford, westerns e Tarantino

- Serge Daney e o maneirismo, em inglês

- Uma conversa entre Akira Kurosawa e Hayao Miyazaki. A transcrição está em inglês

- Nova edição da La Furia Umana

- São ao todo seis cartas abertas a John McTiernan: 1, 2, 3, 4, 5, 6

- Gabe Klinger dirigi um curioso "Cinéma de notre temps" sobre James Benning e Richard Linklater. Vejam o trailer:


quarta-feira, junho 12, 2013

police ***

“Police” (1985) é um Pialat diferente. Um exercício de gênero. Um policial que se recusa a atender as expectativas geradas pela trama, mas sem jamais abandonar algumas imagens e viradas que marcam o gênero. Talvez seja o filme de Pialat onde um início, um meio e um fim se fazem sentir de maneira mais evidente. Afinal, acompanhamos uma investigação policial. Algumas informações e justificativas são necessárias. Às vezes me parece que o filme se ressente um pouco disso, embora a montagem de Pialat, mais comedida do que em seus outros filmes, continue apostando nas elipses, na ausência dos pontos finais. Isso faz com que o desenvolvimento da trama pareça por vezes algo aleatório. Senti-me perdido em alguns momentos, como quando, por exemplo, surge o irmão Noria (Sophie Marceau), que, aliás, sai do filme como entrou, de repente. O tempo é algo difícil de mensurar. Se em um primeiro momento, suspeitamos uma sequencia está em continuidade temporal com a seguinte, em um segundo, cenas mais tarde, percebemos que se passaram meses. O que é incrível é que, ao assumir estes buracos, estas ausências, “Police” nos propõe outra coisa. Eu, por exemplo, comecei a pensar na quantidade de informações desnecessárias de a grande maioria dos filmes policiais, ou thrilers, vomitam em cima da gente. Os atores estão, como sempre em Pialat, incríveis. Vivem personagens extremamente carismáticos que agem de maneira inesperada, inexplicável, condenável. Gosto bastante da primeira cena do filme. Um interrogatório. Lá pelas tantas, Mangin (Gérard Depardieu) vai buscar café em uma máquina no fundo da sala. A máquina faz um barulho estrondoso. O interrogatório é interrompido. A cena, contudo, continua. Qualquer técnico de som, provavelmente até mesmo o de Pialat, reclamaria horrores do barulho. Pialat o integra a cena, como uma espécie de agente, de força, a intensificar, a sublinhar o embate que se desenrola naquele espaço-tempo.   

domingo, junho 09, 2013

loulou ****

Estava em Belo Horizonte esta semana. Tudo por causa de Maurice Pialat, um dos meus diretores favoritos. O Cine Humberto Mauro abriga uma mostra completa. Já havia visto todos os seus filmes, embora poucos no cinema. Cheguei de ônibus, e, da rodoviária, segui direto para o cinema, para ver “Loulou” (1980), o quinto longa de Pialat. Ao longo da sessão uma palavra ganhou corpo: intimidade. Era algo que os planos carregavam, produziam, disseminavam. 

Acompanhamos o desenrolar de um relacionamento, embora sem amarras de um início, um meio e um fim, desprovido de viradas dramáticas ou pontos de exclamação. As ações e os personagens afirmam comportamentos, personalidades, humores. É difícil falar sobre eles. Vemos cenas que para a maioria dos cineastas seria de pouco interesse, como caminhadas, conversas no balcão de um café, personagens ouvindo música ou vendo TV, etc. E mesmo as cenas teoricamente mais "agitadas", como a de um roubo, não são filmadas como se o fossem. Nós, espectadores, corremos atrás do filme, de seus personagens. Tornamo-nos íntimos. Uma intimidade sem conteúdo. Uma intimidade da ordem da experiência mais física, concreta. Entende? Uma intimidade que não se conjuga com a ideia de flagrante. Não se trata disto, ou pelo menos não exatamente. Intimidade tem a ver com uma montagem que se esforça para não concluir seus planos, com uma duração que nos chama mais pra perto, com uma certa noção de câmera viva, como um olhar, como um exercício do olhar. Por vezes, e como isso é curioso, os atores parecem olhar para detrás da câmera, como se esperassem que o diretor determinasse o fim da tomada. Convido-os a perceber estes pequenos momentos. Verdadeiros curto-circuitos, eles não quebram a quarta parece, não desmerecem o realismo aparentemente improvisacional das atuações e direção, não quebram o pacto de confiança que alimentamos com os personagens. Ao contrário.

Além disso, Isabelle Huppert, em seus pouco menos de trinta anos, era já uma beleza.