quarta-feira, abril 28, 2010

sessão cinética

Sessão Cinética, hoje, lá no IMS:

17h
A Enguia (Unagi)
de Shohei Imamura (Japão, 1997), 117 min

19h
Os Amantes de Pont-Neuf (Les amants du Pont-Neuf)
de Leos Carax (França, 1991), 125 min

segunda-feira, abril 26, 2010

diálogos com ozu

O Fórum na Tela lá da UFRJ abriga uma pequena mostra chamada Diálogos com Ozu:

26/04 segunda 19h às 21h

Contos de Tóquio, de Yasujiro Ozu (Tokyo Monogatari, 1953,136 min, P&B, Japão, falado em japonês, legendas em português)

27/04 terça 19h às 21h

Tokyo-Ga, de Wim Wenders (Tokyo-Ga, 1985, 92 min, cor, USA/Alemanha, falado em japonês, legendas em português)

28/04 quarta19h às 21h

Pai e Filha, de Yasujiro Ozu (Banshun,1949, 108 min, P&B, Japão, falado em japonês, legendas em português)

29/04 quinta19h às 21h

35 Rhums, de Claire Denis (35 Rhums, 2008, 100 min, cor, França/Alemanha, falado em francês, legendas em inglês)

30/04 sexta19h às 21h

Café Lumière, de Hou Hsiao-Hsien (Kôhî jikô, 2003, 103min, cor, Japão/Taiwan, falado em chinês e japonês, legendas em inglês)

03/05 segunda19h às 21h

Casa de Alice, de Chico Teixeira (Casa de Alice, 2007, 92 min, cor, Brasil)

04/05 terça19h às 22h

Garotas do ABC, de Carlos Reichenbach (Garotas do ABC, 2003, 103 min, cor, Brasil)

Após o filme, haverá debate com Chico Teixeira e Carlos Reichenbach com mediação da profa. Anita Leandro (ECO/UFRJ)

quinta-feira, abril 22, 2010

as melhores coisas do mundo

Uma enorme decepção. Fui levado pelos muitos elogios feitos ao filme e quebrei a cara. Faço minhas as palavras de Sérgio Alpendre e Inácio Araújo. Leiam.

os famosos e os duendes da morte

Como era de se esperar de Esmir Filho, a montagem, os filtros, os desfocos, os movimentos bruscos e a forte marcação de cena geram um universo de extrema afinidade com o protagonista de “Os famosos”. Mas, para além da estilização da imagem e do som, há um certo compromisso com a captação da experiência - e neste sentido, a fotografia de Mauro Pinheiro Jr. (“No meu lugar”, “Cinema Aspirinas e Urubus”) é mais uma vez um grande destaque. Esmir aposta em tempos mais largos. Vemos em detalhes, sem pressa e sem síntese, os gestos do rapaz. Nada mais que simplesmente isso. Acompanhamos em um plano frontal o protagonista andando para a escola enquanto seu melhor amigo o segue de bicicleta fazendo em círculos em torno dele – o que faz lembrar muito do cinema de Gus Van Sant (especialmente “Paranoid Park), embora a lembrança talvez não faça lá muito bem a “Os Famosos”. Ou seja: há uma mudança no olhar para os personagens. Se antes Esmir parecia por demais preocupado em expressar suas criaturas com excelência técnica e domínio plástico (que o levaram muitas vezes a ser acusado de um certo “exibicionismo publicitário”), agora ele parece igualmente interessado na superfície dos corpos e nos sinais da existência.

E assim, “Os Famosos” se afirma em um difícil equilíbrio entre um tom mais realista e um outro mais onírico. Esmir oscila com bastante freqüência por entre estes regimes, por entre uma aproximação mais epidérmica com o universo dos personagens e uma misteriosa cadeia de acontecimentos, entre a atenção aos gestos e olhares do protagonista e um certo excesso de gordura expressiva nas imagens. Esse vai e vem talvez tenha enfraquecido o conjunto da obra. “Os Famosos” começa atento aos pequenos e banais momentos de seu personagem, interessado por seu universo e a relação que ele alimenta com aquilo que o cerca, e termina como um drama recheado de suspense e revelações. O filme nos promete um mundo que nunca veremos de fato. Aos poucos, seu protagonista parece contaminado por uma estranha espécie de solipsismo. A melancolia ou o luto do menino não se concretizam. A morte jamais se impõe como ameaça. E nem mesmo o gosto por Bob Dylan se justifica.

terça-feira, abril 20, 2010

mostra

Começa hoje a Mostra Cineastas e Imagens do Povo, lá no CCBB. Vejam a programação:

terça, 20 de abril
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17:30 PGM 8 . Operários 3 - Linha de montagem (Renato Tapajós, 1981, 35mm, cor, 90 min, livre)
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19:30 Abertura (74’): Maioria absoluta (Leon Hirszman, 1964, beta, p&b, 18 min, 14 anos),Liberdade de imprensa (João Batista de Andrade, 1967, 16mm, p&b, 24 min, livre), Lavra-Dor(Paulo Rufino, 1968, beta, p&b, 11 min, livre), Brasília segundo Feldman (Vladimir Carvalho 1979, 16mm, cor, 21 min, livre)
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quarta, 21 de abril
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17:30 PGM 10 . Filmar a história 2 - Os anos JK, uma trajetória política (Sílvio Tendler, 1980, beta, cor, 109 min, livre)
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19:30 PGM 15 . Diálogo com “Filmar a história” - São Paulo Sinfonia e Cacofonia (Jean-Claude Bernardet, 1994, beta, cor, 29 min, 14 anos), Isto é Noel (Rogério Sganzerla, 1991, beta, cor/p&b, 42 min, livre)

quinta, 22 de abril
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17:30 PGM 18 . Diálogo com a ficção - O homem que virou suco (João Batista de Andrade, 1979, 35mm, cor, 97 min, 16 anos)
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19:30 PGM 6 . Operarios 1 - Chapeleiros (Adrian Cooper, 1983, 16mm, cor, 24 min, livre),Greve (João Batista de Andrade, 1979, 16mm, cor, 37 min, livre), Os queixadas (Rogério Corrêa, 1978, 16mm, cor, 30 min, livre)

sexta, 23 de abril
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17:30 PGM 17 . Diálogo com Bernardet - Iracema - Uma transa amazônica (Jorge Bodanzky e Orlando Senna, 1974, 35mm, cor, 90min, 18 anos)
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19:30 PGM 2 . O espelho perturba o método - A opinião pública (Arnaldo Jabor, 1967, DVD, p&b, 78 min, 14 anos)

sábado, 24 de abril
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16:00 PGM 4 . Vertentes outras - Cultura & loucura (Antônio Manuel, 1973, beta, p&b, 9 min, livre), Brasília segundo Feldman (Vladimir Carvalho 1979, 16mm, cor, 21 min, livre), Aruanda(Linduarte Noronha, 1960, beta, p&b, 21 min, livre), A pedra da riqueza: ou a peleja do sertanejo para desencantar a pedra que foi parar na lua com a nave dos astronautas(Vladimir Carvalho, 1976, 16mm, p&b, 15 min, livre)
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18:00 PGM 3 . Em busca da voz do documentarista - Liberdade de imprensa (João Batista de Andrade, 1967, 16mm, p&b, 24 min, livre), Migrantes (João Batista de Andrade , 1972, 16mm, p&b, 7 min, livre), Congo (Arthur Omar, 1972, 16mm, p&b, 11 min, livre), Lavra-Dor (Paulo Rufino, 1968, beta, p&b, 11 min, livre)
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19:30 Debate “As vozes que Bernardet escutou: da voz do dono a voz do outro”, comArthur Omar e Maurice Capovilla, mediação Simplício Neto

domingo, 25 de abril
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16:00 PGM 1 . A voz do dono - Subterrâneos do futebol (Maurice Capovilla, 1965-65, beta, p&b, 30 min, livre), Maioria absoluta (Leon Hirszman, 1964, beta, p&b, 18 min, 14 anos), Passe Livre (Oswaldo Caldeira, 1974, beta, cor, 75 min, livre)
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18:00 PGM 9 . Filmar a historia 1 - Cabra marcado para morrer (Eduardo Coutinho, 1964/84, 35mm, cor e p&b, 119 min, 12 anos)
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20:00 PGM 19 . Novas Imagens do povo 1 - Uma Avenida chamada Brasil (Octávio Bezerra, 1988, 35mm, cor, 85 min, 16 anos)

terça, 27 de abril
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15:00 Curso “A voz do dono”, com Fernando Morais
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17:30 PGM 1 . A voz do dono - Subterrâneos do futebol (Maurice Capovilla, 1965-65, beta, p&b, 30 min, livre), Maioria absoluta (Leon Hirszman, 1964, beta, p&b, 18 min, 14 anos), Passe Livre (Oswaldo Caldeira, 1974, beta, cor, 75 min, livre)
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19:30 PGM 3 . Em busca da voz do documentarista - Liberdade de imprensa (João Batista de Andrade, 1967, 16mm, p&b, 24 min, livre), Migrantes (João Batista de Andrade , 1972, 16mm, p&b, 7 min, livre), Congo (Arthur Omar, 1972, 16mm, p&b, 11 min, livre), Lavra-Dor (Paulo Rufino, 1968, beta, p&b, 11 min, livre)

quarta, 28 de abril
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15:00 Curso “Filmar a história”, com Roberto Moura
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17:30 PGM 9 . Filmar a história 1 - Cabra marcado para morrer (Eduardo Coutinho, 1964/84, 35mm, cor e p&b, 119 min, 12 anos)
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19:30 PGM 10 . Filmar a história 2 - Os anos JK, uma trajetória política (Sílvio Tendler, 1980, beta, cor, 109 min, livre)

quinta, 29 de abril
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15:00 Curso “O espelho perturba o método”, com Andrea França
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17:30 PGM 2 . O espelho perturba o método - A opinião pública (Arnaldo Jabor, 1967, DVD, p&b, 78 min, 14 anos)
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19:30 PGM 13 . Diálogo com “O espelho perturba o método” - Pacific (Marcelo Pedroso, 2009, beta, cor, 74 min, sem classificação indicativa)

sexta, 30 de abril
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15:00 Curso “A entrevista”, com Consuelo Lins
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17:30 PGM 11 . A entrevista - À margem da imagem (Evaldo Mocarzel, 2002, 35mm, cor, 72 min, livre), Casa de cachorro (Thiago Villas Boas, 2001, beta, cor, 26 min, livre)
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19:30 PGM 16 . Diálogo com “A entrevista” - Jorjamado no cinema (Glauber Rocha, 1979, beta, cor, 51 min, 12 anos), Memória do cangaço (Paulo Gil Soares, 1965, DVD, p&b, 30 min, 14 anos)

sábado, 1º de maio
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16:00 PGM 14 . Diálogo com Operários - Peões (Eduardo Coutinho, 2004, DVD, cor, 85 min, Livre)
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18:00 PGM 8 . Operários 3 - Linha de montagem (Renato Tapajós, 1981, 35mm, cor, 90 min, livre)
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19:30 Debate “As imagens da história: comemorando o 1º de maio”, com Eduardo Coutinho, Silvio Tendler e Otávio Bezerra, mediação Eliska Altmann

domingo, 02 de maio
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16:00 PGM 20 . Novas imagens do povo 2 - Aboio (Marília Rocha, 2005, 35mm, cor, 73 min, Livre)
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18:00 PGM 06 . Operários 1 - Chapeleiros (Adrian Cooper, 1983, 16mm, cor, 24 min, livre),Greve (João Batista de Andrade, 1979, 16mm, cor, 37 min, livre), Os queixadas (Rogério Corrêa, 1978, 16mm, cor, 30 min, livre)
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20:00 PGM 18 . Diálogo com a ficção - O homem que virou suco (João Batista de Andrade, 1979, 35mm, cor, 97 min, 16 anos)

terça, 04 de maio
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15:00 Curso “Em busca da voz do documentarista”, com Mariana Baltar
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17:30 PGM 3 . Em busca da voz do documentarista - Liberdade de imprensa (João Batista de Andrade, 1967, 16mm, p&b, 24 min, livre), Migrantes (João Batista de Andrade , 1972, 16mm, p&b, 7 min, livre), Congo (Arthur Omar, 1972, 16mm, p&b, 11 min, livre), Lavra-Dor (Paulo Rufino, 1968, beta, p&b, 11 min, livre)
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19:30 PGM 11 . A entrevista - À margem da imagem (Evaldo Mocarzel, 2002, 35mm, cor, 72 min, livre), Casa de cachorro (Thiago Villas Boas, 2001, beta, cor, 26 min, livre)

quarta, 05 de maio
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15:00 Curso “Operários”, com Simplício Neto
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17:30 PGM 7 . Operários 2 - O Porto de Santos, (Aloysio Raulino, 1979, 35mm, p&b, 19 min, livre), Braços cruzados, máquinas paradas (Sérgio Toledo Segall e Roberto Gervitz, 1979, 16mm, p&b, 76 min, livre)
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19:30 PGM 8 . Operários 3 - Linha de montagem (Renato Tapajós, 1981, 35mm, cor, 90 min, livre)

quinta, 06 de maio
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15:00 Curso “Vertentes outras”, com Luiz Alberto Rocha Melo
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17:30 PGM 4 . Vertentes outras - Cultura & loucura (Antônio Manuel, 1973, beta, p&b, 9 min, livre), Brasília segundo Feldman (Vladimir Carvalho 1979, 16mm, cor, 21 min, livre), Aruanda (Linduarte Noronha, 1960, beta, p&b, 21 min, livre), A pedra da riqueza: ou a peleja do sertanejo para desencantar a pedra que foi parar na lua com a nave dos astronautas (Vladimir Carvalho, 1976, 16mm, p&b, 15 min, livre)
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19:30 PGM 17 . Diálogo com Bernardet - Iracema - Uma transa amazônica (Jorge Bodanzky e Orlando Senna, 1974, 35mm, cor, 90min, 18 anos)

sexta, 07 de maio
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15:00 Curso “O segredo da voz do outro”, com Cezar Migliorin
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17:30 PGM 5 . O segredo da voz do outro - Tarumã (Mario Kuperman, 1975, beta, cor, 13 min, livre), Jardim nova Bahia (Aloysio Raulino, 1971, 35mm, p&b/cor, 15 min, livre), Gilda (Augusto Sevá, 1977, 16mm, cor, 13 min, livre), Mito e metamorfoses das mães nagô (Iya-Mi-Agbá - Arte sacra negra II) (Juana Elbein dos Santos, 1979, 16mm, p&b, 51 min, livre)
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19:30 PGM 12 . Diálogo com “O segredo da voz do outro” - Prisioneiro da Grade de Ferro(Paulo Sacramento, 2004, 35mm, cor, 123 min, 16 anos)

sábado, 08 de maio
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16:00 PGM 10 . Filmar a história 2 - Os anos JK, uma trajetória política (Sílvio Tendler, 1980, beta, cor, 109 min, livre)
.
18:00 PGM 15 . Diálogo com “Filmar a história” - São Paulo Sinfonia e Cacofonia (Jean-Claude Bernardet, 1994, beta, cor, 29 min, 14 anos), Isto é Noel (Rogério Sganzerla, 1991, beta, cor/p&b, 42 min, livre)
.
20:00 PGM 7 . Operários 2 - O Porto de Santos (Aloysio Raulino, 1979, 35mm, p&b, 19 min, livre), Braços cruzados, máquinas paradas (Sérgio Toledo Segall e Roberto Gervitz, 1979, 16mm, p&b, 76 min, livre)

domingo, 09 de maio
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16:00 PGM 1 . A voz do dono - Subterrâneos do futebol (Maurice Capovilla, 1965-65, beta, p&b, 30 min, livre), Maioria absoluta (Leon Hirszman, 1964, beta, p&b, 18 min, 14 anos), Passe Livre (Oswaldo Caldeira, 1974, beta, cor, 75 min, livre)
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18:00 PGM 2 . O espelho perturba o método - A opinião pública (Arnaldo Jabor, 1967, DVD, p&b, 78 min, 14 anos)
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20:00 PGM 5 . O segredo da voz do outro - Tarumã (Mario Kuperman, 1975, beta, cor, 13 min, livre), Jardim nova Bahia (Aloysio Raulino, 1971, 35mm, p&b/cor, 15 min, livre), Gilda (Augusto Sevá, 1977, 16mm, cor, 13 min, livre), Mito e metamorfoses das mães nagô (Iya-Mi-Agbá - Arte sacra negra II) (Juana Elbein dos Santos, 1979, 16mm, p&b, 51 min, livre)

quinta-feira, abril 15, 2010

pessoa 2

Agora é a vez de Alberto Caieiro.

Trechos de O Guardador de Rebanhos

II

O meu olhar é nítido como um girassol
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isto muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras..
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentido...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é
Mas porque a amo, e amo-a por isto,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...


V

Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do Mundo?
Sei lá o que penso do Mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que idéia tenho eu das coisas?
Que opinião tenho eu sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).
O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o Sol
E a pensar muitas coisas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o Sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do Sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do Sol não sabe o que faz
E por isto não erra e é comum e é boa.
Metafísica? Que metafísica tem aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar
A nós que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber o que não sabem?
"Constituição íntima das coisas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em uma coisa dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.
Pensar no sentido íntimo das coisas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das coisas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.


XX

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêm em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.


XXIV

O que nós vemos das coisas são as coisas.
Porque veríamos nós uma coisa se houvesse outra?
Porque é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê,
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma sequestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convites de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.


XXVI

Às vezes em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu
Beleza às coisas.
Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: tem cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe
Que dou às coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então porque digo eu das coisas: são belas?
Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as coisas,
Perante as coisas que simplesmente existem.
Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!


XXVIII

Li hoje quase duas páginas
Do livro dum poeta místico,
E rí como quem tem chorado muito.
Os poetas místicos são filósofos doentes,
E os filósofos são homens doidos.
Porque os poetas místicos dizem que as flores sentem
E dizem que as pedras têm alma
E que os rios têm êxtases ao luar.
Mas as flores se sentissem, não eram flores,
Eram gente;
E se as pedras tivessem alma, eram coisas vivas, [não eram pedras;
E se os rios tivessem êxtases ao luar,
Os rios seriam homens doentes.
É preciso não saber o que são flores e pedras e rios
Para falar dos sentimentos deles.
Falar da alma das pedras, das flores, dos rios,
É falar de sí próprio e dos seus falsos pensamentos.
Graças a Deus que as pedras são só pedras,
E que os rios não são senão rios,
E que as flores são apenas flores.
Por mim, escrevo a prosa dos meus versos
E fico contente,
Porque sei que compreendo a Natureza por fora;
E não a compreendo por dentro
Porque a Natureza não tem dentro;
Senão não era a Natureza.


XXXI

Se à vezes digo que as flores sorriem
E se eu disser que os rios cantam,
Não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores
E cantos no correr dos rios...
É porque assim faço mais sentir aos homens falsos
A existência verdadeiramente real das flores e dos rios.
Porque escrevo para eles me lerem sacrifico-me às vezes
À sua estupidez de sentidos...
Não concordo comigo mas absolvo-me,
Porque só sou essa coisa séria, um intérprete da Natureza,
Porque há homens que não percebem a sua linguagem,
Por ela não ser linguagem nenhuma.


XXXV

O luar através dos altos ramos,
Dizem os poetas todos que ele é mais
Que o luar através dos altos ramos.
Mas para mim, que não sei o que penso,
O que o luar através dos altos ramos
É, além de ser
O luar através dos altos ramos,
É não ser mais
Que o luar através dos altos ramos.


XXXIX

O mistério das coisas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio e que sabe a árvore
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as coisas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.
Porque o único sentido oculto das coisas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as coisas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.
Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos:
As coisas não tem significação: têm existência.
As coisas são o único sentido oculto das coisas.


XL

Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não tem perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move.
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
A flor é apenas flor.


XLV

Um renque de árvores lá longe, lá para a encosta.
Mas o que é um renque de árvores? Há árvores apenas.
Renque e o plural de árvores não são coisas, são nomes.
Tristes das almas humanas, que põem tudo em ordem,
Que traçam linhas de coisa a coisa,
Que põem letreiros com nomes nas árvores absolutamente reais,
E desenham paralelos de latitude e longitude
Sobre a própria terra inocente e mais verde e florida do que isso!


XLVII

Num dia excessivamente nítido,
Dia em que dava a vontade de ter trabalhado muito
Para nele não trabalhar nada,
Entrevi, como uma estrada por entre as árvores,
O que talvez seja o Grande Segredo,
Aquele Grande Mistério de que os poetas falsos falam.
Vi que não há Natureza,
Que a Natureza não existe,
Que há montes, vales, planícies,
Que há árvores, flores, ervas,
Que há rios e pedras,
Mas que não há um todo a que isso pertença,
Que um conjunto real e verdadeiro
É uma doença das nossas idéias.
A Natureza é partes sem um todo.
Isto é talvez o tal mistério de que falam.
Foi isto que sem pensar nem parar,
Acertei que devia ser a verdade
Que todos andam a achar e que não acham,
E que só eu, porque a não fui achar, achei.


XLVIII

Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a humanidade
E não estou alegre nem triste.
Este é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.
Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.
Quem sabe quem os lerá?
Quem sabe a que mãos irão?
Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.
Ide, ide, de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.
Passo e fico como o Universo.


XLIX

Meto-me para dentro, e fecho a janela.
Trazem o candeeiro e dão as boas-noites.
E a minha voz contente dá as boas-noites.
Oxalá a minha vida seja sempre isto:
O dia cheio de sol, ou suave de chuva,
Ou tempestuoso como se acabasse o Mundo,
A tarde suave e os ranchos que passam
Fitados com interesse da janela,
O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,
E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
Sem ler nada, sem pensar em nada, nem dormir,
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito.
E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.

segunda-feira, abril 12, 2010

pessoa

Fernando Pessoa:

“Falsamente creamos a idéia de uma realidade interna. Realidade então é um conteúdo de termos. A idéia de realidade é coincidente com a de externo. Ao externo a devemos. No externo a vemos. A criança, mal toma consciencia, é do externo que a toma. Ter consciencia de si é semelhança. É translato e ficticio o processo pelo qual nos pensamos existentes. Penso, portanto existo, disse Descartes. Pensa-se, devia dizer. Ao dizer penso, o philosopho faz introduzir absurdamente no pensamento um conhecimento do eu que nenhuma intelligencia faz alli apparecer”.

Álvaro de Campos:

Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.

E isso tudo me faz pensar em um certo cinema contemporâneo, que reclama o caos e o infinito que subsiste por trás de toda organização formal. Mais do que isso. Um cinema que admite a necessidade de uma porção formal e narrativa, mas uma forma e uma narrativa que possibilitem o escoamento do caótico, do infinito, que compõem as próprias formas e não param de trabalhá-las por dentro.

quarta-feira, abril 07, 2010

desabafo 2


Eita filme afetado. Queriam mesmo fazer de “Insolação” um filme de arte! Fotografia bonita. Diálogos profundos. Desconstrução narrativa. Dramas mudos do cotidiano. Não julgamento dos personagens e das situações em que se envolvem. O corpo em detrimento da psicologia. Personagens inspirados em Tolstoi. Tolstoi? Não consegui ver isso. Os personagens de Tolstoi são sempre pessoas simples, dessas que conhecemos aos montes, boas, porém incapazes de fazer o bem. E em “Insolação”? O Fábio Andrade lá na Cinética lembrou de Antonioni como uma referência incontornável. Ele tem razão. Lá estão os corpos cansados, o embate figura x fundo, a solidão e a incomunicabilidade como característicos da miséria do mundo moderno. Antonioni, no entanto, não critica o mundo moderno. Muito elo contrário. Ele acredita em suas possibilidades. O corpo se mostra cansado, mas o cérebro parece vislumbrar esperanças. Desespero e esperança fazem parte do cinema de Antonioni. E em “Insolação”, um filme que opera a nível cerebral e intelectual, jamais a nível nervoso? O que falta pra mim mais uma vez é sensação, sentimento (= verdade).

segunda-feira, abril 05, 2010

curtas de kleber

O Filipe Furtado já havia recomendado lá no seu Anotações de um Cinéfilo. Resolvi fazer coro à indicação. Acessem esta página e vejam os curtas de Kléber Mendonça Filho.

sexta-feira, abril 02, 2010

desabafo 1


“Histórias de amor duram apenas 90 minutos” me deixou triste pra burro. Pois é, sai desesperançoso do filme de Paulo Halm. É um cinema sem verdade, sem tesão, sem sentimento. Sabe como é? A metalinguagem já vem no título. O afetado flashback inicial. O jazz inteligente. A lapa hedonista. Tudo aqui tem o seu valor de face, explorado sem nenhum disfarce. Em determinado momento, o narrador-protagonista diz que sua mulher é como uma personagem de filme francês, “linda inteligente e fria”. Mas não se engane. Ela é isso mesmo, uma personagem de filmes francês. O nosso narrador também não foge à triste regra desse longa. Como ele mesmo diz, o personagem de Caio Blat é um “babaca metido à escritor”. Sacou? E o pior de tudo isso, é uma espécie de complexo de superioridade no qual a narrativa desse filme desfila, plano após plano. É como se cineasta nos afirmasse a todo momento que ele sabe o que é bom, rejeitando ao mesmo tempo as “besteiras” hollywoodianas e os experimentos mais “modernos”, nem popular demais, nem cabeça em demasiado. E o público presente ria, ria...